terça-feira, junho 06, 2006
[0.669/2006] A limpar o mofo do PSF
Ségolène Royal volta a abanar/chocar os dirigentes socialistas franceses. Depois de apresentar uma leitura de que o Estado não se pode comportar como um misericordioso, quando as regras de todos são infringidas pelos mais carenciados, que não deixam de ser mais ou menos do que outros quando infringem, desta feita a hipotética candidata socialista à presidência coloca o dedo na ferida (na óptica dos dirigentes do PSF), referindo a pouca viabilidade, nestes tempos, das 35 horas semanais. Quer em termos económicos, quer, sobretudo, em termos sociais, pois as mulheres com menos qualificações são, segundo afirma, as mais prejudicadas com a medida do Governo do PSF. É certo que Ségolène critica a medida de Jospin, e não refere que a semana das 35 horas foi concertada num período de crescimento económico, e que, depois, não atingiu o sucesso pretendido. Mas, mais vale admitir a realidade e apresentar uma proposta alternativa que responda às dificuldades e interesses das pessoas, do que negar a realidade, como a maioria dos dirigentes do PSF faz. Todos os outros putativos candidatos reagiram de imediato, demarcando-se das propostas e acusando Ségolène de não ter preocupações sociais. Ora, o que ela revela é preocupação com a realidade. O cruzar de braços em nada soluciona a crise que a França atravessa. Felizmente, Ségolène não tem uma visão passadista, agarrada a dogmas. A esquerda promotora de emprego e com valores sociais, se os quer fomentar e concretizar, não pode estar concentrada e padronizada nos princípios da década de 70 e 80. Aliás, os primeiros anos de Mitterrand na Presidência mostraram como as suas opções nacionalizantes não foram as mais adequadas. Alguns dirigentes do PSF deviam lembrar-se disso. À esquerda não deve faltar utopia, mas não pode ficar presa as propostas oníricas, sob pena de a realidade gaulesa continuar a degradar-se. A socialista mais bem colocada para disputar o Eliseu tem demonstrado que está mais interessada em apresentar propostas que solucionem os problemas, do que em apresentar um programa escrito, esteticamente interessante, mas politicamente ineficaz. É isto que custa a uma grupo de dirigentes socialistas, que, apesar de não terem qualquer hipótese eleitoral de sucesso, sentem-se ultrapassados por uma mulher qualificada e que enfrenta as questões que são sensíveis franceses. Não rodopia nem delira sobre os seus problemas. Com Ségolène, o PSF está a mudar. Já era tempo de arejar um partido com tanto mofo! CMC
9:57:00 da tarde
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