terça-feira, maio 25, 2004
[00.533/2004]
Paradoxos
O estender do tapete vermelho, lançado à rede do desaparecido indizível com naturalidade saudita, no Iraque, com a obstinação de quem queria guerrear a todo o custo, acabou por promover nas margens do Tigre e do Eufrates o que se previa: maior reforço da rede terrorista.
O combate feito ao terrorismo, levado a cabo no Afeganistão deixou de ser prioridade, por que a única coisa que os poços afegãos davam e dão é areia, enquanto ali ao lado, a areia era e é bastante diferente. De forma líquida e tonalidade escura, afinal, este outro negro é criador de riqueza fácil, o afegão não.
O Afeganistão que passasse para segundo plano, à medida que a plantação de ópio, também ela uma boa e lucrativa mina, regressava.
O tempo de ajustar as contas, de há uma década, dos falcões inconscientes, era o ideal. Nada como fazer do tirano execrável um pouco mais diabólico do que aquilo que era. Isto, como se fosse possível.
Cai o regime, já quase de papel, mas o suficiente para continuar a massacrar milhões de iraquianos enquanto o senhor de Bagdad liderasse o país.
Tentaram fazer a soma dos dois galos, o abominável ditador e o nefando terrorista, como se as pessoas pudessem acreditar que houvesse ligações entre dois os galináceos. Era demasiado básico, num galinheiro só pode haver um galo e quando entre eles se odeiam, há um que não mete a pata no galinheiro do outro.
Agora, um galo, o mais débil, a nível de força, caiu; o outro, o mais sagaz, continua, qual ágil ofídio, a espalhar e multiplicar o seu veneno por terras anteriormente massacradas pelo despotismo de quem um dia já foi o melhor amigo de Washington, acabava a década de 70 e começava a de 80, do passado século.
Hoje, a insegurança é maior. Todos sabemos, todos a sentimos.
Hoje, as lideranças (ocidentais) são fracas e não têm projecto, senão aguentar o mal menor.
Hoje, o Iraque é um enorme e sangrento ponto de interrogação para toda a comunidade internacional.
Uns defendem a saída imediata das forças armadas ocidentais, outros defendem a sua manutenção.
Neste momento, o que se coloca ao mundo ocidental, praticamente, mas não só, é aquilo que pode ser o futuro do Iraque. Ou um território, já de si complexo, mas no qual a peleja pelo aniquilamento das redes terroristas se trava, ou um puro e simples abandono, deixando não só o tapete estendido, como as portas da casa escancaradas, convidando o terror contemporâneo a instalar-se, por uns tempos, naquela paragem, na qual pode descansar a preparar futuros assaltos.
Os paradoxos do presente são ainda mais intrincados, quando quem devia ter sido exemplo não o foi, pelo contrário, acabou por ser o principal prevaricador e agora acha-se a si num beco sem saída.
A retirada do Iraque pode ser o maior convite, autêntica prenda, que o Ocidente pode dar a quem, aos onze dias de Setembro do ano dois mil e um e aos mesmos dias de Março deste ano, regozijou.
Sinais de decadência deste pólo do hemisfério? Provavelmente. Talvez o (nosso) caixote do lixo (ocidental) ainda tenha, se alguém não se encarregou de deitar fora, aquilo que para alguns é uma insignificância: a Ética.
Mais do que o maniqueísmo do bem e do mal, do deste lado e do outro lado, não se pode surripiar que a grande força do terror está nos valores que tendem e tem conseguido fazer passar.
Os braços não se travam só no ferro, mas também nas convicções.
CMC
7:41:00 da tarde
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