domingo, agosto 29, 2004
[00.956/2004]
O presidenciável que foi e o que está para vir
Há um ano atrás, sensivelmente, o debate político nacional centrava-se nas eleições presidenciais de Janeiro de 2006. As eleições europeias, a poucos meses de se realizarem, e autárquicas pouco ou nada contavam. Só as presidenciais. Muito por culpa e interesse do, na época, alcaide da capital.
O debate só girava no tabuleiro da direita. Quem devia ser o candidato: fulano ou beltrano?
Um ano passou e a direita deixou de se pronunciar, em especial a partir do momento em que o animador de serviço deixou o horizonte de Belém para as calendas gregas. Afinal, o salto a ser dado a partit da praça junto do Terreiro do Paço seria mais curto do que previamente previsto. Não seria Belém, mas sim, num facto totalmente inesperado, São Bento. As traseiras da Assembleia da República seriam a próxima paragem de quem anda há anos de um lado para o outro.
Penso que é altura da ciência começar a definir este tipo de políticos como uma espécie de caixeiros-viajantes, no universo político. Vai-se andando de um lugar para o outro, nunca se comprometendo fielmente com o cargo presente, pois o objectivo é sempre o próximo posto a querer ser alcançado.
Tenta-se dar uma imagem externa de grande preocupação e determinação com o lugar que se ocupa, quando o mais importante, e é tudo o que faz alimentar o desejo de estar sempre em combate, por isso se procura rentabilizar todas as oportunidades de se fazer ver e ter constantemente de aparecer, seja no cargo oficial, seja como comentador ao chuto da bola, seja com lencinhos, lençóis ou edredões. Tudo se resume em chegar ao poiso seguinte.
Mas, há sempre hiatos e, presentemente, o artista mor do burgo está a passar por um hiato.
De vez em quando, lá desce a terreiro para matar saudades da arte de bem manobrar. Desta feita, o cargo pesa mais e queima mais depressa a carreira. Um deslize é a morte do artista.
Após uma entrada atribulada, com entrevistas aqui e ali, nas palavras cedidas às câmaras, pouco ou nada disse. Nada de novo. Apenas o e-governement (o que é isso?). Fica sempre bem dizer algo com esta pompa e circunstância, nomeadamente quando a sonoridade é estrangeira. Umas mudanças geográficas de ministérios também foram expressas, como se fossem a panaceia das assimetrias nacionais. Ora por que não um ministério ir para o Corvo, outro para Barrancos, assim que terminem as matanças dos toiros, outro para Mogadouro e, ainda, outro pode ir para Oleiros, por exemplo.
Sim! A sentença das mudanças ministeriais anunciadas no fim de Julho foram tão premeditadas como as palavras que acabam de ser escritas.
Um mês de silêncio. No fim das férias, para reentré, nada como premiar os mais atentos com umas palavras cedidas a uma revista. O que foi dito? Nada. A não ser que estavam 48 graus na cerimónia da tomada de posse e que a essa temperatura era difícil ler.
Será que o outro senhor, aquele que os seus companheiros, os antigos, os primeiros agora a considerarem-no um traidor, se aguentou nas cordas vocais com 48 graus? (Talvez estivessem menos dez graus. Pelo menos. Se realmente estiveram os 48,como é que alguém conseguiria ficar no salão? É o tique de tudo hiperbolizar para dar mostras de grande resistente às adversidades.)
Fica-se com a sensação de que pelo menos este Primeiro, ao invés de outros, perde mais de 10 minutos a ler jornais. Nem que seja somente a pousar para a foto. Sim, por que a tarefa de escolher um jornal, entre muitos, de todos os pontos do globo, de fazer com que o nome do jornal seja legível na fotografia, convém que seja um matutino estrangeiro para dar um ar de superioridade intelectual, encontrar um local certo para colocar os dedos no papel, tudo isto somado demora mais do que dez minutos.
Hoje, a direita rende-se, se já não estava, a um só candidato presidencial. Até o candidato, que não se assumia como tal na altura, mas mais do que desdizer confirmava a sua ambição de querer ser Presidente da República; hoje, no cargo mais relevante do executivo nacional, defende que quem deve ser o digno representante da direita, para se cumprir o dito sonho do seu inspirador (a piada é antiga e está gasta), é a mesma pessoa que há uns meses, segundo palavras do respectivo senhor, seria a primeira pessoa (o actualmente candidato inequívoco da direita) a acabar com a coligação que hoje assume o poder em Portugal... Que coerência. A mesma que tem tido ao longo dos tempos. Nisso, reconheça-se: é fiel a si próprio.
A esquerda acabou por ficar com o tique presidencial, retardado da direita. Anda a discutir quem é o melhor candidato. Enquanto, entre horas vagas, grande parte da esquerda faz psicoterapia, querendo recuperar da faca que pensam ter sentido há uns tempos nas costas.
Ainda falta algum tempo para a escolha do candidato, à direita e à esquerda. Mas, haverá alguém, à esquerda, com dúvidas de quem está em condições de melhor travar e poder ganhar a disputa eleitoral? Como diria alguém: é a vida!
CMC
11:05:00 da tarde
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