quinta-feira, novembro 04, 2004
[1.292/2004]
Não-eleitores
Dizia esta manhã Nuno Rogeiro na sua crónica do RCP que os europeus e os portugueses em especial terão de rever os conceitos que categorizam os norte-americanos como um bando de incultos e desinformados. Fundamentava este raciocínio com o respeito que é devido a quem vota e a quem compete escolher, para o seu País, os que o devem liderar. Concordo com Rogeiro, só recordando que essa escolha foi feita por meia população norte-americana.
Sem dúvida que quem tinha poder para escolher, escolheu, e se não fossemos uma Nação submissa e a Europa não fosse um continente fraco, bastava-nos aceitar, sem mágoa, essa escolha. Não consta que algum norte-americano esteja preocupado com a eleição do Presidente da República Portuguesa.
A questão da eleição norte-americana nunca tinha atingido o ponto de interesse que esta revelou fora dos EUA porque, mais do que as preferências pessoais que todos tínhamos o direito a manifestar, estava em jogo a escolha do líder mundial, sem que nos fosse dado o direito de o mandatar para nos representar.
O Mundo transformou-se nestes últimos anos numa ditadura governada por "meia-dúzia" de dirigentes, que só alguns têm o poder de escolher.
Essa situação deve-se essencialmente a factores que condicionam os povos do mundo e que resultam da incapacidade da Europa e dos outros continentes fazerem valer nas instituições internacionais o direito e imporem o seu cumprimento. Resultam de governos fracos e submissos onde muitos dos seus cidadãos, que agora choram os resultados de eleições que não lhes dizem respeito, nem sequer exercerem o seu direito de voto.
Neste momento confrontamo-nos com o reforço da liderança mundial encabeçada pela dupla Bush/Putin que, longe de prometer um mundo melhor, faz prever uma vaga de crescendo bélico, em nome do combate ao terrorismo (que não consegue exterminar), sobre países e povos que considerem "non gratos".
A frustração dos "não-eleitores americanos" só existe porque nos seus países o poder é fraco e deixa que lhe imponham decisões, mesmo que tomadas ilegalmente, como foi o caso da guerra do Iraque.
No caso português, por exemplo, não só o poder não teve voto na matéria como ainda por cima, numa lógica demonstração de vassalagem, enviou e mantém um contingente militar numa guerra ilegal, fazendo-o pagar com o dinheiro que diz não ter para assegurar os mínimos de qualidade de vida dos seus cidadãos-contribuintes.
O que teve Portugal a ganhar com a eleição de Bush? Nada! E se Bush e Putin, ou um ou outro, entenderem fazer um raid sobre o Irão, a Coreia do Norte ou a "conchichina", contra a resolução dos povos do mundo, o que ganhará Portugal que nada teve a dizer sobre as suas escolhas? Nada!
Pelo contrário, perde. Perde sempre e mais perde quando alinha nas aventuras em que esses lideres, que não foi chamado a escolher, se resolvem meter e que mais tarde ou mais cedo reverterão em nova violência extremista e insana a ser praticada em qualquer ponto do globo.
O reconhecimento reservado aos fracos e submissos é aquele que se manifestou na legenda da fotografia que correu os Blogs quando o PM de Portugal apertou a mão do líder da cruzada do bem.
Resta-nos a frustração de nada termos a dizer sobre a escolha dos líderes do Mundo.
LNT
1:13:00 da tarde
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