domingo, novembro 28, 2004
[1.401/2004]
Leninismo-Cunhalismo operário
A numenklatura escolhera o sucessor e o novo líder apresentou-se ao Congresso perante a esmagadora maioria dos militantes escolhidos pelo centralismo democrático da Soeiro Pereira Gomes. Por isso, os resultados retumbantes, por voto electrónico, não são surpresa para ninguém. Aliás, a votação seria a mesma caso a votação fosse pelo método tradicional de voto por braço no ar.
Delegados escolhidos , lista única, que outro resultado poderia suceder que não uma votação de La Palisse?
Tive oportunidade de ver o discurso do novo líder, que motivou, e muito, refira-se, os militantes comunistas que enchiam o pavilhão de Almada. Com palavras de cartilha, os aplausos vibravam sempre que o novo líder acentuava os termos mais consagrados nos idos de 1917. A luta de classes, o combate ao capitalismo, a defesa dos operários. Em suma, um discurso consistente e concomitantemente desfasado no tempo.
Das últimas décadas, os tempos actuais são os que mais favorecem os ideais comunistas, muito por causa da decadência do modelo neoliberal. O terreno social (leia-se eleitoral) é abonatório para os ideais comunistas prosperarem. Mas, o comunismo não tem aproveitado este terreno, extremamente aproveitado pela social-democracia. Isto porque, o descontentamento social das classes médias e baixas já não se revê, em grande parte, nas lógicas políticas apresentadas pelo comunismo, que assume uma visão anacrónica da sociedade.
O mundo mudou e com ele, as doutrinas políticas também.
Se a social-democracia atravessa, desde os princípios da década de 90 do passado século, dilemas doutrinários, como por exemplo: qual a posição do Estado na sociedade? Dilema, ao qual, muita das vezes responde, quando exercendo o poder, com políticas que facilmente bem se podem conotar de direita; já que a social-democracia ainda não encontrou uma resposta ao dilema principal, na óptica do cidadão enquanto membro activo na sociedade: entre o colectivismo que tende a anular o indivíduo e o individualismo que tende a enfraquecer o colectivo.
Ora, para o comunismo, nestes pontos cruciais, a resposta é sempre a mesma. Inflexível. O colectivo jamais é colocado em causa e jamais o individualismo prevalecerá. Por isso, o cânone leninista impõe a força do colectivo, do qual sobressai, numa primeira fase da conquista do poder, um grupo restrito desse colectivo para liderar a ofensiva que tomará o poder.
Só que nas sociedades actuais, os descontentes, que são muitos, já não se encontram e agrupam em massa. Reinvindicam o seu lugar ao Sol. Mas não deixam de ser muitas parcelas, de poucas pessoas, que, quando juntos, aí sim, formam um grande colectivo. O comunismo não conseguiu dar resposta a esta nova realidade, por que impõe, como ponto fulcral, a submissão do individual ao colectivo, sem qualquer ced~encia.
O PCP tem um pequeno grupo interno que escolheu o novo líder, mas não conquista e com este modelo não conseguirá cativar as intenções dos milhares de descontentes que podiam dar força política às posições e ideais comunistas. Porquê? Porque, de certa forma, o PCP deixou de querer almejar o poder. Prefere enquistar-se nos eleitores fiéis. Não arrisca. Prefere ter um pássaro na mão do que dois a voar. Só que ilude-se a si próprio, por que o pássaro que tem na mão não voa. E, em certa medida, não segue o ensinamento de Lenine: "aprender, aprender sempre", ou seja, aprender com a realidade para a melhor compreender e a ela saber dar respostas à sua altura. Se o PCP quisesse aprender, há muito que a estrutura interna e a relação externa tinha mudado.
Assim, apresentando-se como grandes revolucionários, os principais dirigentes do PCP, mais parecem os dirigentes da URSS nas décadas de 60 e 70. Conservadores natos. Com uma diferença, os tais dirigentes soviéticos estavam, na altura, no poder para durar. O PCP, hoje, está na oposição e a definhar.
Fica a linguagem leninista, com bênção cunhalista, nesta versão operária, que no próximo ano conhecerá mais um duro abanão, quando a grande fonte de vitalidade do PCP, o poder local, decrescer.
É pena. O Partido Comunista Português é um grande partido deste país.
CMC
4:42:00 da manhã
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