segunda-feira, janeiro 10, 2005
[0.066/2005]
Campanha [ II ]
Caro Luís,
Face ao desafio que lançou, aproveito para abordar a campanha de uma formação política que já se fez à rua, a da CDU, tendo por base, a posição do principal partido da Coligação, o PCP.
O PCP adopta, quando coligado com o PEV, em plena campanha eleitoral, a cor azul. A cor oficial da CDU. Coligação que veio substituir a velha APU, que tinha como cores políticas as cores da República, o verde e vermelho.
Se tivermos em linha de conta as diversas campanhas eleitorais ao longo de trinta anos, o PCP tem adoptado, no período de campanha, uma cor que não o vermelho. A cor dos comunistas. À excepção dos primeiros anos de democracia em Portugal.
Todas as coligações feitas pelo PCP: FEPU, APU e CDU têm cores que não (permita-se-me a adaptação) o vermelho comunista - como pode ser observado na bandeira do PCP.
No caso da FEPU e APU, o PCP adoptou as cores da República, como já se referiu e no caso da CDU o azul tem sido a cor dominante. Se bem que, por exemplo nos diversos cartazes, haja sempre um adorno mais colorido, como a presença de uma flor, com toques de verde e amarelo.
A tentativa eleitoral do PCP tem sido óbvia de não acentuar na campanha a sua cor oficial, pretendendo com isso dar um tom menos monopartidário, que realmente é um facto, não é só o PCP que compõe a coligação, contudo, na realidade, a grande força partidária da coligação é o Partido Comunista Português.
Assim, o vermelho do PCP, tendencialmente assustador para muitas camadas do eleitorado, estamos num país tradicionalmente conservador não nos esqueçamos, e que percepciona o vermelho (na política) como uma cor demasiado revolucionária, é substituído por uma cor menos agressiva, para os olhos do eleitorado. Por conseguinte, a campanha do PCP pretende, por um lado, transmitir a linguagem política comunista, e, por outro, misturar a linguagem com uma cor bem aceite na sociedade portuguesa, no caso, o azul, cor, por sinal, mais de "génese" monárquica em Portugal.
Todavia, das mudanças feitas ao longo dos anos, pelo PCP, não deixa de ser relevante a alteração, no caso dos cartazes para as legislativas, nos últimos anos. Anteriormente nunca um cartaz de qualquer coligação feita pelo PCP apresentava o rosto do líder. Facto que mudou desde 1999, quando o rosto do anterior Secretário-Geral, Carlos Carvalhas, surgiu nos cartazes das legislativas desse ano. Caía um "trauma" comunista, de ter de se apresentar ao eleitorado como um colectivo em que não se destacava e identificava um rosto.
Pelos cartazes que já se podem ver na rua, o novo líder comunista também tem a sua face estampada na campanha.
A campanha não é diferente de campanhas anteriores. O azul e o lema da luta imperam, na cor e vocabulário. O que não cria qualquer tipo de novidade no transeunte/eleitor.
A imagem de campanha da CDU está criada e assimilada pelos eleitores, com a habitual cor azul e frase de luta.
Por outro lado, é constatável, quando o PCP não está em período eleitoral, o mesmo tipo de mensagem de luta ser a mesma, mas, no caso da cor, já muda. Assumindo, aqui sim, em período não eleitoral, a cor vermelha.
Em suma, o PCP adopta um estilo (linguagem e cor) de campanha já conhecido, de fácil identificação por parte do eleitor e que, independentemente da conjuntura do país, é sempre o mesmo.
Julgo que há, da parte dos comunistas, pouca sensibilidade e trato no domínio do marketing. Aspecto fundamental para despertar o interesse e captar votos do eleitorado, em especial dos mais descrentes e dos descontentes, quer da classe média quer da classe baixa, onde se encontra(va) o tradicional eleitorado comunista.
A não adaptação da campanha, sobretudo, às circunstâncias do momento político, social e económico, acaba por transmitir, pelas diversas campanhas, uma postura de inércia. Seja em 1999, 2005 ou 2010, sempre com o mesmo slogan e a mesma cor, sem qualquer cambiante, acaba-se por assumir que só se procura, unicamente, lembrar ao eleitorado fiel que a Coligação marca presença nas eleições.
Numa campanha aguerrida, como têm sido e continuarão a ser, não ter qualquer estratégia de atracção do eleitorado, é estar a afastar eleitorado que até se podia interessar pelas propostas. Todavia, o eleitorado que ainda equaciona em que formação votar, acaba por não reconhecer qualquer adaptação das teses apresentadas à realidade do momento, por que as propostas apresentadas em campanha são sempre as mesmas. Eleitorado que desenvolve, sem querer, uma ideia de propostas intemporais, facto facilmente explorado por outros partidos, no caso os de direita, que lançam, sob o PCP, o anátema de "terem ficado parados no tempo". Através da recuperação de um período, a guerra-fria, que já passou, mas que ainda desperta ódios e amorese, e no qual o PCP é facilmente conotado ao "monstro" soviético. E, no caso português, o assunto, sempre que é referido, desperta muito mais desprezo do que paixão.
Em suma, a CDU demonstra ter pouca preocupação na elaboração de uma campanha que seja, visual e oralmente, cativante. Para além, naturalmente, do que é razoável, para motivar os seus militantes e simpatizantes.
CMC
10:32:00 da tarde
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