sábado, janeiro 29, 2005
[0.204/2005]
As juventudes partidárias e as eleições
Sou defensor da existência de juventudes partidárias, como espaço privilegiado de formação e debate político. Todavia, como os anos têm demonstrado, maioritariamente, as juventudes têm sido muito pouco do que deveriam ser.
Ao invés, as juventudes têm servido como centro de formação de carreiristas, muitos deles com poucas qualificações, quer a nível político e profissional, e, não menos despiciendo, humanas.
Constrói-se uma carreira à custa do caciquismo. Segura-se um lugar aqui, faz-se um frete, na juventude ou no partido ali, e a carreira de político, sem qualificações, está construída.
O melhor (para pior) exemplo do que acabo de dizer são a maioria dos principais dirigentes nacionais e distritais do PPD e, em certos casos, o PS também não fica atrás.
Por isso, centralizo este texto só nas juventudes dos dois grandes partidos e a sua postura nesta campanha eleitoral.
No caso da juventude do PPD, ideias não têm. O líder da juventude embirrou com o lugar que lhe reservaram e por isso saiu das listas. Faz uma campanha, pelos jornais e cartazes que já vi, sem nível. Do insulto reles e barato. Dando mais relevo ao principal adversário, o líder do PS, tentando passar a imagem de alguém que nada fez. Ora os jotinhas laranjas devem ter pouca memória. Se alguém se referiu ao trabalho desenvolvido com qualidade pelo Secretário-Geral do PS, enquanto governante no tempo do Guterres, esse alguém foi o actual Presidente do PPD, nos famosos debates, já que se fala tanto em debates, da RTP1. Dizia o então edil de Lisboa e comentador: "o Governo de Guterres foi um desastre, mas havia algumas excepções, entre as quais o senhor". O senhor, a que o Presidente do PPD se referia era José Sócrates.
Outro dos erros e infantilidades dos jotinhas laranjas é o cartaz dirigido ao BE. Um grande partido, como é o caso do PPD, deviam saber os jotinhas, nunca está numa contenda eleitoral em disputa directa com quem procura votos nas franjas. Procura, isso sim, com uma mensagem forte e determinada, obter a atenção e apoio na grande massa de eleitores que votam com sentido, consciente e inconsciente, de eleger para um Governo e não eleger deputados à Assembleia da República. Voto que se inclina para o PS ou PPD consoante a conjuntura.
Quanto à JS, já parece ser apanágio apresentar algumas propostas ditas fracturantes. Aborto, droga e casamento entre casais do mesmo sexo são as propostas apresentadas para estas legislativas.
Estas propostas não têm nada de errado, mas são mais do mesmo. No que diz respeito ao aborto, o assunto sempre foi, em Portugal, assumido pelos partidos. E, nestas eleições, o tema está em debate. Nada de novo. Em matéria de droga, mais do que a liberalização das drogas leves, é determinante a defesa de investimento nas diversas prevenções: primária, secundária e terciária. Nenhuma destas determinantes políticas são defendidas. Quase que se transmite, por entrelinhas, uma só ideia: defendemos que as pessoas, que quiserem, possam fumar ganza à vontade. Como quem pisca o olho a algum eleitorado juvenil rebelde.
Sinceramente, para uma juventude de esquerda, dita e considerada progressista, até um Governo de direita, o conservador PP em Espanha, adoptou uma política mais progressista e fundamental para a sociedade, as casas de chuto, com grande sucesso refira-se. O domínio, drogas, é o mesmo, o que diferencia é o principal do acessório.
Quanto aos casamentos entre casais do mesmo sexo, penso que é mais uma medida para os jotinhas tentarem vincar a sua presença e com isso procurarem mostrar a sua irreverência. Sabendo, de antemão, na actual sociedade portuguesa, por enquanto, tal medida ainda não é bem acolhida, por isso apresenta-se a medida. Dir-se-á: é um marcar de terreno. Posso até validar tal afirmação, mas de pouco substancial vale no quotidiano, sobretudo num momento decisivo para o nosso país, mais carente de mudar de estratégia, para referir áreas que dizem mais respeito aos jovens, de educação e trabalho.
Seria interessante ver as juventudes partidárias defenderem outro modelo para as relações entre a universidade e as empresas. Tanto se fala do modelo irlandês, mas bem podiam os jotinhas evocar o modelo finlandês, de como as ligações, frutíferas, entre universidades e empresas tem sido benéfico para todos: estudantes, empresários, trabalhadores mais antigos da empresa e, por consequência, do país, a Finlândia.
Seria interessante ver as juventudes partidárias defenderem outro modelo laboral. Tendo uma visão mais a longo prazo do que a médio. Pois os jovens de hoje só atingirão a sua reforma quando tiverem os seus oitenta ou mais anos. Importaria começar a prevenir e qualificar o trabalho.
Prevenir, no sentido de os horários de trabalho serem de 35 horas. Se antigamente trabalhava-se 40 por semana, para trabalhar mais ou menos 30 anos, em breve, trabalhar-se-á, devido à subida da esperança média de vida, 40 ou mais anos. E, defender uma política de qualificação permanentemente para as pessoas ao longo da vida, pois o ritmo da globalização tem alterado, e de que forma, as novas abordagens de trabalho, seja no campo das relações humanas, seja no campo das novas tecnologias, em constante mudança.
E, mais do que as balelas do costume sobre o debate do aborto, seria fulcral defender uma política efectiva de incentivo à natalidade. Um problema com que as sociedades europeias, especialmente a portuguesa, se confronta, com os baixos índices de natalidade. Devia de haver apoios aos jovens casais até aos 35 anos.
Apoios que não passariam só por benefícios fiscais, mas também por um relacionamento laboral, em especial a mulher.
Este é um assunto premente e discriminador. Primeiro para a mulher e também para o homem. Na realidade, a viabilidade do país começa a ser colocada em causa a longo prazo.
Enfim, as jotas continuam a fazer o papel dos últimos anos. Formar carreiristas e apresentar, só para tentar marcar diferença em relação aos partidos, propostas fracturantes, que de fractura muito pouco têm. Para além do já habitual agitar de bandeiras nos comícios.
CMC
3:20:00 da manhã
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