sexta-feira, fevereiro 04, 2005
[0.241/2005]
O debate
Há uns dias, ainda o número de debates a realizar entre os dois candidatos, do PS e do PPD, aquecia os ânimos entre as pessoas, quem foge ao debate e quem está disponível para os realizar, quantos deviam acontecer, disse ser favorável a um tipo de debate semelhante ao modelo norte-americano, os minutinhos e as luzinhas, para perceber as propostas de cada partido sem interrupção, ao mesmo tempo que procurava não me afundar no debate estéril de quem é que tem o mérito de querer debater em excesso ou em parcimónia.
Criei uma elevada expectativa para o debate de ontem. Lá estavam as luzinhas e os minutinhos, que não são assim tão poucos como aparentam. Dois minutos "a falar sozinho" tanto pode criar, no telespectador, uma sensação de apresentação de muitas propostas, ou melhor, a apresentação concertada de propostas para determinada área, ou um enorme vazio de ideias, caso os dois minutos não sejam trabalhados como deve de ser.
Primeiro desagrado do debate, que nem pertenceu aos políticos. Quatro jornalistas na mesa. Para quê? Um parecia um ponteiro de relógio. O "faltam 30 segundos" começava a irritar, à medida que o debate caminhava. A frase lá surgia sempre que o tempo de um candidato estava a terminar. Como se nenhum dos candidatos, e telespectador, não soubesse que a luz verde indicava 30 segundos para o fim da intervenção. O "cronometrador" teve uma participação disparatada. Dando a sensação que nada sabia e só estava ali para fazer respeitar o tempo.
Outros três jornalistas, para quê? Parecia uma mesa de refeição japonesa. Gira-se o prato e outro jornalista formulava uma questão.
Os debates norte-americanos, neste aspecto, são elucidativos. Um só jornalista, chega, basta e sobra, para só dois candidatos.
O debate acabou por ter mais jornalistas do que candidatos. Desnecessário. Como diriam alguns queixosos dos serviços públicos nacionais, que atentam e lamentam o excesso de funcionários públicos em certos sectores do Estado, tantas pessoas para fazer um serviço para o qual um só bastava. Para quê aquela plêiade de bons jornalistas? Escusado.
O debate entre os dois candidatos, ao fim e ao cabo, nem aqueceu, nem arrefeceu. Foi, o que em linguagem desportiva se considera um empate.
Um empate, porque o candidato do PS e o do PPD disseram o que todos os portugueses já conhecem de cada um. Sem novidade, limitaram-se a repetir o que têm dito nos últimos tempos.
E, um empate, porque a prestação de Sócrates já era esperada, pelas intervenções que fez. Demonstrou boa preparação e conhecimento dos dossiers. Da parte do candidato do PPD, constatou-se o costume. Uns números decorados na ponta da língua, para serem expressos em determinados momentos, perda de pé nas questões concretas. Torneava as questões.
Em suma, a prestação dos dois foi a esperada. Não houve um único rasgo que marcasse a diferença. Um mostrou estar bem preparado. Outro devaneava por questões "colaterais".
A intervenção final correu melhor ao candidato do PPD. Mesmo analisando o seu discurso final, oco de conteúdo, a forma do discurso, com os olhos do candidato pregados na câmara, como que a dizer: estou a falar olhos nos olhos com os portugueses, foi, das duas intervenções no desfecho aquela que no apelo à emoção e menos à razão melhor correu.
O candidato socialista falou olhando para a mesa dos jornalistas e não conseguiu cativar a atenção do telespectador. É uma técnica televisiva, mas quem a trabalha pode ganhar com isso. Quem não a pratica, em confronto, pode sair perdedor. Não foi o caso, mas o líder do PPD esteve melhor neste aspecto.
Quanto aos temas abordados, considero que foram poucos, os referidos, mas alguns foram esclarecedores, nomeadamente a questão ambiental. Dando o candidato socialista um ensinamento ao candidato do PPD, desconhecedor da matéria, do porquê da defesa da co-incineração.
A adaptação ao modelo de debate, por parte dos políticos e jornalistas não foi a melhor. Notou-se como se sentiam enfiados num colete-de-forças. Não conseguiram, com facilidade, encaixar nos carris do debate, desde respeitar o tempo, por vezes ou se ultrapassava o tempo ou se interrompia o interlocutor. Evidenciou-se o pouco à vontade dos diversos intervenientes.
Não se discutiram muitos temas.
O início ficou demasiado enredado nos boatos. Questão nada relevante e supérflua.
Por conseguinte, as expectativas que tinha em relação ao debate defraudaram-se. Os políticos e jornalistas nacionais não se sentiram bem naquela pele.
Do sumo político propriamente dito, o debate não trouxe nada de novo. Qualquer dos discursos já era conhecido.
Acabou por ser uma revisão do debate efectuado pelos dois candidatos nos últimos dias. Desta vez com a diferença de os dois estarem lado a lado, em vez de debaterem por intermédio da comunicação social.
CMC
6:29:00 da manhã
. - .
Página inicial
. - .
Comentários (0)
|
|