segunda-feira, fevereiro 07, 2005
[0.275/2005]
Os sótãos dos partidos
Caro Rui,
Quando publiquei o Post [0.271/2005] ainda não tinha passado pelo Adufe e como tal não sabia o que pensavas da participação de Guterres no comício de abertura da campanha do PS. Pouco depois, numa das rondas pelos meus Blog's preferidos vi que também o Adufe achava mal que Guterres tivesse botado faladura no início da propaganda socialista.
Pelos comentários ao tal Post parece-me matéria a ser tratada com um pouco mais de profundidade, o que vou tentar fazer.
O PS é um partido onde a tolerância e a democracia são pilares. Talvez por isso seja a referência que os democratas sempre viram na primeira linha da defesa da liberdade. Talvez por isso seja o Partido mais amado e odiado da democracia portuguesa. Talvez por isso seja o único partido que já deu dois Presidentes da República ao Portugal democrático.
No PS, como em todos os outros partidos políticos democráticos portugueses, existem opiniões diferentes sobre muitas coisas e sobre muitas actuações. No entanto, à parte da luta política interna para fazer vingar ideias, o PS apresenta-se a votos externos com uma só voz. Resulta do facto dos socialistas do PS serem cidadãos conscientes das suas convicções e responsáveis perante a Nação, nunca deixando de, nos locais próprios, apresentarem as suas posições e as fazerem votar.
Como os socialistas do PS são fundamentalistas democráticos, respeitam as regras da democracia e respeitam os seus líderes, porque eleitos pelos seus camaradas. Não só os respeitam, como entendem que a todos devem agradecimento pela afirmação do socialismo democrático em Portugal.
É assim em relação a Mário Soares, Victor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Eduardo Ferro Rodrigues e a José Sócrates. Ninguém exige a ninguém que se goste de todos por igual, ou sequer que com eles estejam em permanente acordo.
Só se exige democracia e cidadania, isto é, respeito pela vontade expressa.
Acabado o entretanto, voltemos a Guterres.
António Guterres foi um excelente Primeiro-Ministro de Portugal. De tal forma que numa segunda candidatura os portugueses resolveram dar-lhe praticamente a maioria absoluta, não fossem uns trocados que a bem da governação tiveram de ser negociados por umas fatias de queijo. Na altura tanto o PCP como o BE votavam ao lado do CDS e do PSD para conseguir deitar abaixo aquilo que a quase maioria dos portugueses entendia ser uma boa opção para Portugal.
Guterres sempre foi um homem honesto e um democrata de raça. Quando, numas eleições autárquicas os portugueses entenderam mostrar-lhe que não estavam satisfeitos com a sua governação, fez aquilo que a sua consciência lhe determinou. Previu o "pântano", não como agora se interpreta, mas como a impossibilidade real de governar. Tinha na Assembleia da República todos os outros Partidos contra ele e não dispunha de deputados suficientes para lhe assegurarem a governação. Os eleitores acabavam de lhe demonstrar que, também eles, estavam descontentes.
Como democrata que é, entendeu que os portugueses deveriam expressar o seu desejo.
Os que até aí exigiam a sua demissão, passaram a dizer que ele tinha fugido, muitos dos que entendiam que ele devia ficar viraram-lhe as costas e disseram que os tinha abandonado.
A minha opinião sobre tudo isto é conhecida. Guterres fez o que tinha de ser feito, com a diferença que eu entendia que o deveria ter feito na Assembleia da República com a apresentação de uma moção de confiança. O resultado teria sido o mesmo, mas agora não o podiam acusar do que injustamente acusam.
Já ninguém se lembra das tristes figuras que Durão Barroso andou a fazer em Bruxelas apontando um défice, por sinal até inferior ao que ele delatava? O mesmo Barroso que nos anos seguintes andou a esconder uma realidade muito pior através de manigâncias diversas?
Já ninguém se lembra de ver o PCP e o BE votarem sistematicamente ao lado do CDS e do PSD?
Dito isto, porque razão não havia Sócrates de se fazer anteceder no comício do passado Domingo por António Guterres? O PS tem orgulho de ter António Guterres entre os seus e Sócrates nunca escondeu a sua imensa admiração pelo actual Presidente da Internacional Socialista.
Dizes, caro Rui, não ver vantagens para os resultados que o PS pretende obter no próximo dia 20. Talvez sim, talvez não. Não sei responder.
Mas sei que Guterres é património do PS e no PS não é costume meter as fotografias dos seus mais ilustres no baú guardado no fundo do sótão do Largo de Rato.
Talvez por isso, se um dia for necessário, o PS poderá fazer um cartaz com a cara de todos os seus Secretários-Gerais e nenhum deles terá vergonha de lá constar.
LNT
4:24:00 da tarde
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