sexta-feira, abril 22, 2005
[0.614/2005] O "não" francês e neerlandês ao Tratado europeu
A União Europeia está à beira de receber um balde de água gelada (não me enganei, não é fria, é mesmo gelada). Penso que o "não" em França, neste momento, é irreversível. Os problemas internos estão a sobrepor-se. Os cidadãos franceses acabam por dar um "não" há política em vigor em França, ao mesmo tempo que os opositores do Tratado Europeu se aproveitam e misturam tudo, desde a adesão da Turquia à directiva de liberalização de serviços, que nada dizem respeito ao que está em causa com o Tratado, que visa a simplificação do complexo processo europeu. A UE não termina, mas entra numa fase de congelamento. Sair deste encruzilhada é uma incógnita. É certo e sabido que um "não" em França não é o mesmo que um "não" no Reino Unido. Todos estão cientes disso. Acresce o facto, esquecido por muitos devido ao impacto gaulês, de outro Estado que sempre teve uma posição pró-europeia, a Holanda, referendar, três dias depois da França, o Tratado. E, no caso neerlandês, segundo as sondagens, o "não" é maior do que o francês. No fundo, o "não" representa um "não" a estes políticos europeus. Mais preocupados com o umbigo nacional, do que em procurar uma simbiose, exígua mas não impossível, da cidadania que Thomas Mann descreveu há décadas, como nacional de um país e cidadão europeu e vice-versa. Até porque, há bem pouco tempo tivemos prova de como as ambições nacionais podiam ser compatíveis com as pretensões europeias. Os cidadãos europeus podem perceber pouco do que é este OPNI (Objecto Político Não Identificado) União Europeia, mas sentem, como sempre, desde que a Humanidade tem consciência de si, quando há uma determinada e forte liderança, distinguindo-a de um comando político débil, meramente preocupado nos ganhos imediatos e sem projecto de futuro. Falta à União Europeia líderes políticos com projecto dinamizador a nível nacional e europeu. Estes líderes europeus já demonstraram, até ao tutano, que estão secos e apenas se preocupam com o seu interesse político de momento. A União chegou a um ponto, já de Euro no bolso, que não pode andar dependente do peso e da estrutura actual do Conselho Europeu, órgão próprio do exacerbamento nacional. Nesta fase de transição, o Tratado dá a resposta adequada, do meu ponto de vista, à mudança necessária do Conselho Europeu, com a assunção de uma pessoa, exterior aos Governos nacionais, durante dois anos e meio, dando mais eficiência ao Conselho e liberta os Estados membros que presidem ao Conselho para tarefas mais de âmbito nacional. Numa Europa a 25 e em breve a 27, prevendo-se já uma União a 30, é impossível comportar esta dimensão e o modelo actual e o próximo, a entrar em vigor em 2007, de um Conselho Europeu comandado a três, é inviável, a curtíssimo prazo. O "não" francês e neerlandês deverá ser um balde de água gelada, mas devem retirar-se as devidas ilações, nomeadamente os grandes partidos políticos europeus. CMC
1:50:00 da tarde
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