segunda-feira, junho 13, 2005
[0.810/2005] O até amanhã do Camarada português
Portugal está de luto. Aos 91 anos desaparece um dos marcos do século XX português e de toda a História portuguesa. Resistente e inimigo feroz do regime do Estado Novo, Álvaro Cunhal sofreu na pele as agruras do regime. Sonhou um país socialista com o 25 de Abril. Não o teve. Comunista, mais do que convicto, leal aos seus princípios e ideais, sempre se bateu pelos valores que colocou acima da sua própria existência como Ser Humano. Homem inteligente, desafiou, ainda na Faculdade, os bem-pensantes do regime, com uma tese de licenciatura sobre o aborto. Tese de arrepiar, ainda nos dias de hoje, quanto mais na época. Tendo dado o exemplo soviético, o que desarmou os académicos, quase todos eles rendidos e seguidores do então todo-o-poderoso senhor de Santa Comba Dão. Escritor, tradutor, desenhador, homem de Cultura, e não só de política. O seu desaparecimento já era esperado. Mas uma morte, por mais esperada que seja, nunca é aguardada. É um certo Portugal, resistente, combatente, convicto e fiel aos seus princípios, que acaba. Goste-se ou não da personalidade. Álvaro Cunhal é um nome incontornável na nossa História. E, como fiel aos seus valores leninistas, é também um vulto do comunismo mundial que desaparece. É Portugal, é o comunismo que fica mais pobre. Existem poucos homens como Cunhal. O que ele passou, em Vida, não se deseja a ninguém. Resta o tributo a quem lutou, a quem sonhou por um outro mundo. Mesmo que esse não fosse o mundo de muitos. E mesmo que ele, Cunhal e os seus camaradas, tenham prejudicado, por que prejudicaram, com a sua ideologia e a sua acção, milhares de pessoas, no pós-25 de Abril, ninguém pode negar a Álvaro Cunhal a sua personalidade inquebrável e incomparável. O respeito, merecido, a Cunhal, neste momento, baseia-se na sua profunda e intrínseca crença e luta de Vida; e não na identificação ou não com os seus valores. É uma parte do país que parte. Mas há uma marca que fica para todo o sempre nacional. O vermelho, a foice e o martelo, que bordam a personalidade de Álvaro Cunhal, o comunista português. CMC
6:35:00 da manhã
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