segunda-feira, junho 27, 2005
[0.889/2005] Por que falhou o Governo
O Governo falhou por que descurou o principal em política: a palavra. Ao fim de cem dias, o Governo não teve, tal como os executivos anteriores não tiveram, a habilidade política de fazer da vulnerabilidade nacional força, através de um discurso de confiança, de convicção e de motivação. O Governo falhou por que caiu na armadilha que jamais podia abraçar. Fazer da Fazenda a pedra de toque. O seu cavalo de batalha. Infelizmente o Governo não aprendeu com o passado recente e acabou por cair na mesma esparrela. É sabido que as contas nacionais não estão bem e por isso era indispensável tocar na tecla económica, em vez de carregar insistentemente na tecla financeira. Quando não se tem, vai-se à procura. Não se fica a olhar para a carteira. E quem deve e só consegue fazer este discurso, de catapultar, é a Economia, não é a Fazenda, até porque essa não é a sua competência. Por vezes, como é infelizmente o caso presente, o discurso da Fazenda consegue travar e torna-se um obstáculo à motivação. As palavras públicas do Governo não podiam ser do responsável da Fazenda. Não que elas não devessem ser evitadas, afinal elas não se conseguem contornar. Mas não podiam ser as prioritárias. As palavras de ordem deviam ser pertença do titular da Economia. Que deveria, e muito, ultrapassar as intervenções da Fazenda, tendo como objectivo, em cada intervenção, anular qualquer ponto que pudesse evocar uma resposta por mais pequena que fosse por parte da Fazenda. O Governo também falhou por que uma vez mais segue a lógica da política lusitana, tão abstrusa, de fazer de técnicos políticos e de políticos técnicos. A linguagem, a forma de estar e actuar não é a mesma. Difere e muito. Quando os técnicos se armam em políticos falham. Como hoje se comprovou. E, obviamente, o inverso sucede. Pois não se pode pedir ao político para ser técnico. As mãos dos políticos são demasiado grandes para saber mexer em peças, muitas delas pequenas. E, não se pode pedir a quem não tem músculo (político), como os técnicos, para fazer braço-de-ferro político, com a oposição, com as diversas organizações e para falar com os cidadãos. O Governo falhou, pois a descrença sente-se, as manifestações avolumam e as críticas ganham sentido, visto que os erros são patentes. Gafe atrás de gafe fragiliza qualquer posição, por mais bem intencionada que seja. Em política, ou se ganha ou se perde. E as vitórias são sempre mais escassas do que a derrotas. Finalmente, o Governo falhou, por que (ainda) não tem qualquer estratégia externa. Faltam aliados, com que se possa desenhar uma estratégia de médio prazo. Do qual beneficiem os dois ou mais Estados. Só se mantém no poder quem consegue encontrar equilíbrio na exígua corda da governação. Ora, esta corda, ao mínimo estremecimento, faz cair Governos. Como o país se encontra, basta um leve sopro para a corda baloiçar. CMC
9:04:00 da tarde
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