domingo, julho 03, 2005
[0.906/2005] A queda do patinho rosa
A esquerda portuguesa está desorientada. Não encontra candidato a Belém. E, à medida que o tempo passa, e a eleição está mais próxima, a ascendência do Professor de Boliqueime aumenta, sem ele fazer muito. Basta, como tem feito nos últimos tempos, aparecer, mesmo que há pouco ou nada para dizer. Se se tiver em conta as recentes aparições do Professor de Boliqueime, de certeza que podemos notar mais aparições neste ano de 2005, do que entre 2000 e 2004. Por que será? Saudades das câmaras? Ou um simples mas eficaz: estou cá? Como a direita se está a recompor do desastre de 20 de Fevereiro e em matéria presidencial o vento corre a seu favor, nem é necessário dispensar grande atenção; já à esquerda, pelo contrário, está perdida. Cada tiro, cada melro. Tinha um candidato. Cavou-lhe uma sepultura. Podia ter outro, mas acabou por ser lançado como uma lebre. Ao fim e ao cabo, tem a sua pista de corrida vazia e ninguém se perfila, muito menos ambiciona perfilar-se. Desta feita, no caso da esquerda que apoia o poder não se trata de cada cavadela, cada minhoca. Trata-se, isso sim, de cair que nem uns patinhos. Os peritos da praça financeira, pelos vistos com pouca perícia, os que estão no poder - mas não só, enganaram-se nas contas. Primeiro na Fazenda, depois no Banco de Portugal. O número rigorosíssimo das centésimas acabou por ser fatal para a credibilidade. Pretendeu-se dar uma imagem de excelência, acabou por se mostrar pouco profissionalismo. A esquerda que está no poder, como é timbre de quem apoia o poder, desdobrou-se em desdramatizar a situação. Era só fazer, de novo!, as contas. E tudo ficava tudo bem. A oposição, como é seu direito, criticou a torto e a direito. O mais interessante da situação é que os erros não foram detectados por nenhum partido político. Tal não é o estado em que se encontram os partidos portugueses. Todavia, a esquerda que apoia o poder acabou por cair que nem um patinho em mais uma ardilosa armadilha do Professor de Boliqueime. Que com o seu ar professoral veio dizer, publicamente, que o engano era irrelevante (quantas vezes fez no passado esta figura? - só no caso da má moeda, mas aí já o país estava todo revoltado, inclusive os militantes do próprio se revoltavam com a situação). Ora, se há campo onde as pessoas são rigorosas e exigem rigor, para além das ciências exactas, é no domínio das contas. O ar paternalista do Professor de Boliqueime, neste caso, nem lhe assenta muito bem; não é o senhor que gosta de se mostrar como o rigor em pessoa? E não é precisamente essa a imagem que se tende a passar do senhor? Um deslize ou um perdão premeditado? O rigor indica a segunda como resposta. Recuperando o raciocínio, a esquerda que apoia o poder caiu que nem um patinho. Para se defender das críticas evocou o Professor de Boliqueime. Como se se tratasse do baluarte nacional das contas públicas. E, como um mais um são dois, a equação política era simples. Como o baluarte perdoou o erro, não havia direito, muito menos da direita, para criticar. O que a esquerda que apoia o poder acaba por fazer, com esta posição, de referir a leitura do hipotético candidato, é dar (mais) um incentivo ao Professor de Boliqueime na sua caminhada (quase imparável) para Belém. A esquerda que suporta o poder baseia a sua defesa exclusivamente na posição do Professor de Boliqueime. Logo, se o referido senhor diz ui, é por que é mesmo ui. Seria mais digno admitir o erro. Um erro não se deve tapar, admite-se. Chama-se a isto credibilidade. Por outro lado, a esquerda (do poder) parece ter fraca memória. Afinal também não foi ela que sentiu a dissolução do Parlamento no passado. Mas não se devia esquecer como e porquê chegou recentemente ao poder. Os primeiros sinais de entusiasmo à direita fazem-se sentir. Se o PPD preservar em Outubro dois dos três principais concelhos do país (Coimbra, Lisboa e Porto), o que não é difícil, a vitória das autárquicas é sua. Se o seu candidato presidencial, mais do que óbvio, alcançar a vitória, bastará ter presente o desabafo feito por um ilustre advogado portuense e militante do PPD recentemente, aquando do lançamento da candidatura da coligação de direita à cidade Invicta. Depois, é uma questão de tempo. Ao Professor de Boliqueime, se apanhado em Belém, basta-lhe juntar os erros e gafes cometidos (até pode argumentar que foi condescendente, que deu o benefício da dúvida, mas tanto erro não é admissível) e na altura própria (que é como quem diz, quando parte considerável dos portugueses não puder ver um único rosto deste Governo) somar tudo e notar que só há uma única solução política para o país: o despejo. Por isso, a única solução possível para evitar o despejo, com ou sem justa causa, passa por: baixar o défice, diminuir a dívida pública, baixar a taxa de desemprego, entre outros. É quase o mesmo que pedir a quadratura do círculo. Caso contrário, dentro de uns anos, antes de 2009, a mudança pode ocorrer. Talvez venhamos a ver, dentro de uns anos, os que agoram citam o Professor de Boliqueime a criticá-lo pelas posições que assume. Isso já aconteceu recentemente. O caso do actual Presidente da República. Para a esquerda passou de besta a bestial. Para a direita de bestial a besta. Tudo isto se passou há menos de um ano. Congruência? Não há! Para quê? O faro político da maioria dos nossos políticos só se orienta para o já. Já agora... o candidato presidencial da esquerda é?! CMC
4:08:00 da manhã
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