terça-feira, agosto 09, 2005
[1.059/2005] As férias dos governantes
Entra o Verão, chega o período de férias, e a maioria dos portugueses goza as suas férias, conforme a Lei consagra. Até aqui tudo bem. É um direito inalienável (artigo 59º 1. d) da CRP). Todavia, se os políticos também têm direito ao usufruto das férias, no caso desta classe (classe que quase se pode considerar profissional) uns têm mais deveres do que direitos. Refiro-me, naturalmente, aos governantes. Qualquer governante merece, também, os seus dias de gozo, mas o governante tem muito mais deveres do que direitos, para tal basta assumir as suas responsabilidades perante o país. Por isso é que é eleito, e, por isso é que é governante. O caso das férias do actual Primeiro-Ministro, em África, não escapa à lógica das férias dos seus antecessores. Os três estiveram mal. Quando se pede aos portugueses sacrifícios, os governantes têm o dever de ser os primeiros a dar o exemplo. Pois se são eles que pedem, são, ou melhor, deveriam dar o exemplo. Mas não. Sacrifícios que faça o comum dos cidadãos. Primeiro, foi o senhor que agora trabalha em Bruxelas. Em 2003, ou 2004, não me recordo do ano, quando era propalado aos quatro ventos o rigor, que exemplo deu? Foi para uma ilha paradisíaca, de um amigo, no Brasil. Esteve mal. O ano passado, pouquíssimos dias depois de tomar posse, o então chefe de Governo, e actual responsável político por Lisboa, também tirava os seus dias de férias. Assinale-se: depois de poucos dias, só por que se estava no período Estival, o senhor tirava umas férias. Esteve mal. Este ano, outro Primeiro-Ministro, em funções há poucos meses, apanhado no período de férias, também foi gozar as suas, e, como destino, um safari. Num momento delicado para o país, como o actual, os fogos a consumirem a floresta, o que faz o número um do Governo? Vai passar férias. Também esteve mal. Ora, fica o exemplo, que não deve ser dado. Quando um trabalhador muda de serviço, mesmo que seja próximo do período de férias, esse trabalhador só terá direito a usufruir do seu tempo de descanso ao fim, sensivelmente, de 52 semanas de trabalho. Os nossos últimos governantes, com pouco tempo no exercício de funções, um com dias, outro com meses, não estão com meias medidas, e tiram as férias, mesmo sem um ano à frente do Governo. Infelizmente, nos últimos anos, todos os Primeiro-Ministro não foram exemplo. Ainda por cima quando milhares de portugueses estão em dificuldades e é a esses mesmos portugueses que são pedidos sacrifícios. Por outro lado, a situação nacional, com os fogos, é mais um motivo para o líder não arredar pé, e estar junto dos bravos soldados da paz, que lutam, dia e noite, contra esse terror de chamas que destrói o país. Qual é a moral de pedir rigor e sacrifícios, quando quem pede não os assume? Nenhum! E, para cúmulo, agora temos o novo responsável da Fazenda, que, poucos dias depois de assumir funções, também irá assumir, dentro em breve, o seu período de férias. Infelizmente, os cargos políticos tornaram-se meros desempenhos profissionais, com mais (bastante mais) regalias do que as outras profissões. A denominada res publica parece coisa doutros tempos. Um político, quando está ao serviço do país, está em funções 25 horas por dia. Tal como a mulher de César, não basta ser, é preciso parecer. CMC
3:17:00 da manhã
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