terça-feira, agosto 23, 2005
 [1.111/2005] As linhas com que o mundo se está a coser
O artigo publicado hoje no Público, da autoria de José Carlos Pereira, com o título "Choque ou aliança de civilizações", tem de algumas premissas erradas. Em primeiro lugar, Zapatero, quando apresentou a "aliança de Civilizações", fê-lo nas Nações Unidas. Faz dentro de algumas semanas, um ano. Só com os acontecimentos 7 de Julho é que Zapatero se deslocou Londres e tentou abarcar Tony Blair na proposta espanhola. Na sequência da aproximação que Madrid fez de Londres, aquando da última Cimeira europeia, que congelou o processo de ratificação do Tratado Constitucional Europeu. O autor do artigo, pelo que é dado a conhecer, é um licenciado em sociologia, com estudos feitos sobre o mundo árabe. Daí se compreender o conteúdo do seu texto. Porém, não é só o mundo árabe que está abarcado e nem ele pode ser o único alvo de todas as atenções. Por que, parafraseando e adaptando a célebre máximo, há mais planeta Terra para além do mundo árabe. Que é, obviamente, e face às circunstâncias da actualidade, um dos universos mais focados. Está em causa o universo árabe e todas as outras civilizações (adopte-se esta terminologia para simplificar) que o académico Huntington enumerou. Deve ter-se em elevada consideração o que se tem passado na Ásia. Com o aprofundamento das relações entre Rússia e China. Os exercícios militares assumidos pelas duas potências nestes dias são um claro sinal de que os dois países não querem bases militares norte-americanas na Ásia continental. E, noutro ponto do globo, a mão estendida por Caracas ao Equador, para terminar o clima de crispação naquele Estado sul-americano. Por isso, a questão do choque ou aliança das civilizações não pode ser centrado exclusivamente entre o mundo ocidental e o árabe. Como referiu esta semana, José Oneto, na revista Tiempo, o grande opositor da proposta espanhola, da "aliança de Civilizações", é os Estados Unidos. E o pomo da discórdia nem se prende com o mundo árabe, mas com a América Latina. Dentro de algumas semanas a assembleia magna da ONU volta a reunir, e a delegação espanhola, pelo que consta, far-se-á representar em peso, Rei e Primeiro-Ministro. É bem provável que Zapatero volte a reiterar os mesmos pontos do ano anterior. Resta saber como os Estados Unidos acolherá a posição espanhola, e como se posicionará o Reino Unido perante o fosso doutrinário que mantém distantes Washington e Madrid, já que Londres pode reconquistar um aliado na UE, depois de Madrid se ter colocado ao lado de Paris-Berlim (quando Zapatero foi eleito) e de se ter afastado desde eixo nos últimos tempos para se aproximar do Reino Unido. Naturalmente, Londres não prescindirá do seu aliado tradicional do outro lado do Atlântico. No meio destas transformações mundiais, podemos encontrar Portugal no meio de nada. E, por mais que debatamos as nossas eleições, autárquicas e presidenciais, a eleição mais importantes para nós, portugueses, e para a maioria dos Estados europeus, sem nos darmos por isso, é a eleição legislativa alemã do próximo dia 18 de Setembro. CMC
4:27:00 da tarde
. - .
Página inicial
. - .
|
|