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      | sábado, agosto 27, 2005 
 
  
 
 
 [1.133/2005]
 Do Arco, do tempo e do vento
 
 Corriam os ventos ébrios da Liberdade, lembras-te?
 Soldados e marinheiros..., o povo unido (que mentira...), a embaixada com as pratas ensacadas, o fogo, lembras-te?
 Foi lá, onde muito depois o João mandou reerguer os calhaus que estiveram anos a fio atulhados no esterco e no capim.
 Pedregulhos numerados que empilhados refizeram o Arco onde se cravou a poesia. Nunca lá a leste, pudera, perdida que está no calcário para ver ao longe, como um quase simulacro do Triunfo.
 Um arco com a carantonha do centro a fazer lembrar outras aventuras.
 Um arco de outras eras removido de São Bento para fazer o arco do antigo ao contemporâneo, deixando no vão um tempo de vento.
 Dizes que a poesia morreu. Que a ideologia se finou no pseudo pragmatismo.
 Mas por muito recente que sejas, tens de te lembrar de um outro tempo em que não se podia opinar e de um outro em que, de tanto falar, quase se emudeceu.
 E tens de lembrar-te, porque já alguém te contou, que nesses dois tempos houve vozes que nunca calaram, vozes corajosas que ainda hoje são o garante para que as possas ofender sem que nada suceda.
 É impossível que não lembres ser a liberdade uma não-inscrição nos princípios dos tiranos.
   Talvez a culpa das não lembranças tenha de ser repartida.
 Mas, mesmo que nunca te tenham contado, podes folhear, e olha que nem sempre foi fácil fazê-lo, alguma prosa e muita poesia. Se não chegares à lembrança, fica pelo menos no conhecimento.
 E se, mesmo assim, achares que é tarefa hercúlea, perde um pouco do teu ocupado tempo para cruzar a Praça e lê o bronze do Arco. Permite que algum do vento das letras que Sophia, Alegre, Maia e Ary deixaram para a eternidade, te dêem lembrança.
 Oxalá um dia consigas legar a este Portugal desmemoriado um décimo do nada que eles construiram. Oxalá ganhes a lembrança do tempo.
 LNT
        
        
         3:08:00 da manhã
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