terça-feira, agosto 30, 2005
 [1.147/2005] A crise da esquerda O neoliberalismo e a esquerda anglo-saxónica (2/4)
A corrente neoliberal foi determinante no encerramento do século XX político e fez a ponte para o século XXI. Durante duas décadas, sensivelmente, o neoliberalismo teve dois momentos distintos e fulcrais no rumo mundial. A partir da década de 80, conjuntamente com o catolicismo, o neoliberalismo travou um braço-de-ferro, bem sucedido, com o comunismo, tendo terminado a peleja, e ganhando, no momento em que blocos de cimento de Berlim caíam. Durante a década de 90, o neoliberalismo não teve qualquer oponente ideológico. Foi o período dominante e foi também nesse momento que nos países que mais promoveram e empregaram a corrente neoliberal, o neoliberalismo começou a sofrer transformações. Primeiro nos Estados Unidos, depois no Reino Unido (os únicos promotores e exportadores mundiais da corrente europeia fabricada em Chigaco). A chegada ao poder do Partido Democrata e do Partido Trabalhista significou a inversão da marcha ideológica, estritamente no campo económico. O social, pouco significativo na corrente neoliberal, recuperou protagonismo nas políticas públicas. Todavia, o enraizamento da corrente que floresceu na década de 80 ainda marcava, e marca, o campo económico (habitat natural do neolibralismo), daí nem tudo ter sido invertido. Teria sido possível ir mais longe? Provavelmente sim, se a corrente política que tivesse chegado ao poder fosse de origem comunista. O aniquilamento do modelo (económico) seria célere e com isso o globo entraria numa rápida espiral de instabilidade, com forte probabilidade do mercado rebentar. Como foram correntes moderadas, reformistas, foi possível fazer uma transição suave, incrementando, sem destabilizar o sistema, medidas importantes a nível social, tudo por forma a não abanar excessivamente os pilares económicos vigentes, de modo a não desconcertar os carris mundiais. Esta foi a resposta da esquerda no campo anglo-saxónico. No continental, a relação não decorreu da melhor forma, como se comprova na Alemanha. A cópia dos modelos não pode ser transposta à letra, sem atender à realidade, e o falhanço do "Neue Mitte" de Herr Gerhard peca neste sentido. O resultado está à vista. Quanto à esquerda portuguesa, foi possível, nos primeiros anos, entre 95/99, acompanhar, quase a par e passo, o incremento de políticas sociais e educativas, como outros estavam a levar a cabo. Porém, os tempos eram de prosperidade, e, fundamentalmente, as bases sociais e económicas de cada Estado eram, são, diametralmente diferentes. A crise rebentou e enquanto no mundo anglo-saxónico a crise foi, é, recebida com uma almofada, que estanca o primeiro e forte impacto da crise mundial, no caso nacional, essa almofada não existe e o choque fez-se sentir e ainda hoje as mazelas evidenciam o impacto. O neoliberalismo está em fase de mudança. Nas ilhas de Sua Majestade, a corrente não regressou ao poder. Nos Estados Unidos, com o regresso do Partido Republicado ao poder, primeiro, e, sobretudo, depois, com o 11 de Setembro, a corrente ganhou um traje religioso pouco condizente com a corrente. O neoliberalismo foi um dos obreiros da derrocada do comunismo e prosperou durante uns anos. Enquanto o neoliberalismo aumentava a sua influência, as correntes moderadas de esquerda, à excepção das anglo-saxónicas, ou seja, as continentais, ainda não saíram completamente da ressaca da perda de um adversário, forte, à esquerda. A social-democracia ainda está por reformar e surgir no século XXI com uma nova posição, face às realidades, mais complexas, do novo século. Por isso a crise que afecta a maioria dos partidos europeus. Uma vez mais se confirma que o ritmo, e felixibilidade, anglo-saxónica é maior do que a europeia. Mais pesada e lenta de transformar, de mudar. Ao fim e ao cabo os ingredientes inatos à esquerda. CMC
10:34:00 da manhã
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