quinta-feira, setembro 01, 2005
[1.159/2005] Primárias e Cidadania [ 03/n ] Aparelho e freio nos dentes
Não pude deixar de achar alguma graça à abordagem que o Bicho-Carpinteiro fez ontem na SIC. Aliás Medeiros Ferreira esteve ontem especialmente activo nas explicações e opiniões, coisa que em geral agrada pela especial clarividência, característica a que, no assunto presidencial, não fez jus. São dias, como se diz por aí, dias em que é preciso justificar coisas pouco amadurecidas. Para isso, em relação ao chamado Bloco Central, chamou à pedra os caminhos da centralidade. Para isso, em relação às massas, pelo menos às da TV por Cabo, pegou na argumentação das primárias para a adulterar, chegando ao ponto de dizer que o que se passou no PS foi uma espécie de primárias. Explicou (?) que ao anúncio de um dos primários respondeu o marejar e que ao do outro, uma vaga de turbilhão. Errou duas vezes. A primeira porque o tal espaço ao centro há muito que está deslocado, no caso das presidenciais, para a direita e para a esquerda (para simplificar). Os exemplos são claros. Basta observar as disputas eleitorais das presidenciais no Portugal Democrático. (principalmente as duas últimas). A segunda porque confundiu cidadania com aparelhismo. Quando se fala em primárias, fala-se de cidadania. Fala-se de sufrágio e não de movimentos de mar. Fala-se principalmente de sufrágio universal e nunca de particular (mesmo este não se fez). Deixando de parte a irrequietude do carpinteiro e pegando naquilo que o CMC diz no Post abaixo, vejo pela primeira vez a possibilidade de as presidenciais ficarem resolvidas na primeira volta. Infelizmente, acrescento, porque a acontecer, será a meu contragosto. A oportunidade perdida pelo PS de deixar que a cidadania e o republicanismo se intensificassem ao não se abster de espartilhar a vontade dos cidadãos, oportunidade perdida quando transformou uma candidatura de cidadania, numa partidária, irá, num tempo de descontentamento e desagrado, impossibilitar que a eleição do Presidente da República se faça no espírito da Constituição. Transformou a eleição do garante da estabilidade e da união dos portugueses, num acto de avaliação das medidas restritivas e impopulares que o Governo tem sido levado a aplicar. Será uma espécie de referendo francês ao Tratado Constitucional Europeu em que os eleitores mais do que se pronunciarem sobre a Europa se pronunciaram sobre o poder interno. O Partido Socialista só tinha a ganhar com a candidatura de dois ou mais concorrentes da sua esfera. Se não tivesse determinado qual deles deveria avançar, teria promovido a nova ideia de primárias, teria garantido e demonstrado que apostava na democracia da cidadania e teria comprovado que as candidaturas à Presidência da República são independentes dos Partidos. Teria, na primeira volta (primárias), deixado livre os seus (militantes e simpatizantes) para escolher, agindo como congregador de vontades na segunda volta. Não seria a almejada união nacional (ups!), mas pelo menos seria a da esquerda. Teria, pelo debate que se iria gerar, conseguido mobilizar a cidadania e despertá-la para uma resposta participada na segunda volta. Assim não entendeu, preferiu o freio nos dentes e aqui o CMC toca no cerne da questão. À Saramago, colocou-a ainda de forma cívica, ao referir o voto em branco. Mas, como falamos de cidadania, ou por outra, de (des)mobilização da cidadania, o voto em branco poderá ser antes a não participação. Se o candidato do PS perder as eleições, isso acontecerá à primeira volta pelo desinteresse reflectido na abstenção que determinará que 50% +1 se possam obter com um número reduzido de participação cívica. LNT
9:14:00 da manhã
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