terça-feira, outubro 25, 2005
[1.477/2005] Revolução decadente?
Se nos últimos textos tenho aludido à decadência gaulesa, hoje, devo assinalar uma revolução em França. A privatização de 15% da companhia de electricidade. Porém, os sinais de decadência podem ser notados. Num país ainda muito estatizado, a venda de uma pequena parte do capital de uma das grande empresas públicas representa uma mudança significativa. O sector energético é estratégico para qualquer país e o Estado deve preservar a sua posição chave. Por isso, os 15 %, que até podiam ser 20%, de acordo com a lei, não vêm alterar a presença estatal. Resta saber se a venda da companhia de electricidade (com presença em diversos pontos do globo, entre os quais Portugal) representa uma estratégia para tapar o buraco orçamental, até porque, assinale-se, não é comum o Estado francês abdicar das suas posições estratégicas, em pontos estratégicos. Ou, se a venda significa pura política de privatização. Hipótese pouco credível, mas não descartável. Se assim for, se a venda significar a obtenção de receitas para diminuir o défice, talvez a decadência continue a dar os seus sinais em França, pois vender uma posição só para tapar o buraco, representa a falta de orientação do Estado para enfrentar os obstáculos e dificuldades, orçamentais e não só, com que se confronta. Ou seja, pode assinalar-se a inexistência de criação de riqueza, por isso o Estado necessita de vender os anéis para encher um cofre roto. E, depois, já se sabe, vendidos os anéis, não se descarta a hipoteca dos dedos. A França, ao contrário de Portugal, tem um capital humano, cultivado e valorizado ao longo de vários séculos, que lhe possibilita reflectir a nível estratégico, cultural e intelectual, de modo a inverter a situação de decadência e repor o país nos carris do futuro. Resta saber se as elites gaulesas pretendem arregaçar as mangas e assumir este trabalho árduo e indispensável, de repensar o Estado e a sociedade de França no e para o século XXI, ou, pelo contrário, preferem resignar-se, como muitos franceses fizeram aquando do referendo europeu, e pensar que fechando-se em copas, os muros nacionais resistirão à onda de mudança que percorre o planeta. CMC
5:54:00 da tarde
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