sábado, outubro 29, 2005
[1.496/2005] Lusofonia
Caro José, Voltamos ao ponto de discórdia: lusofonia, ser ou não ser, eis a questão! (Permita-me o furto da expressão anglo-saxónica.) Eu, que já não consigo manter as lupas do pós-modernismo durantem muito tempo, aliás, começo a afastar-me dessa corrente dada aos sabores do vento, por vezes, mesmo com esforço, não consigo atingir totalmente a leitura desprendida com que os autores que refere observam aquilo a que se denomina de lusofonia. Quem quiser manter fantasmas do passado que mantenha. Quem não tiver digerido o período anterior ao 25 de Abril de 1974, que o faça, antes que a pesada digestão provoque algumas úlceras, isto é, se elas já não existem e provocam outras lesões estomacais. Mas, sublinho, não é com desprendimentos do criado e existente a partir do passado, julgando que deste modo se apaga o pretérito, que a solução, do incómodo para alguns, se atenua. Há um elo de ligação, entre os milhões de pessoas, as várias culturas e países, impossível de apagar. Bem sei que só passaram três décadas e este espaço temporal, em História, representam escassos segundos. Porém, no mundo globalizado, onde a cultura está bem presente, como impressão identificadora de cada pessoa e território, não ter um ritmo e visão mais céleres representam a perda uma marcha que não olha a identidades. Procurar ajustar contas, ou livrar delas, com o passado, que nunca deve ser esquecido, nem sempre é frutífero. Só as identidades culturais mais consolidadas se mantêm e perduram. Note-se como, infelizmente, das cerca de cinco mil línguas do mundo, a maior parte delas está em vias de extinção. Mas descanse, a lusofonia está longe de ser um qualquer projecto neo-colonialista dos portugueses. O Brasil, e num futuro próximo, espera-se e deseja-se, Angola, são os potentados da lusofonia. As dimensões demográficas, geográficas, económicas e sociais são, aqui, relevantes. E, como referiu o conceito do luso-tropicalismo, talvez um regresso a Gilberto Freyre não nos faça muito mal, pois este salientou muitas das peculiaridades deste espaço, em relação a outras culturas bem próximas da nossa, a que contemporaneamente costuma definir por lusófono. Provavelmente, continuaremos a divergir. Mas como referiu, e bem, em portguês nos entendemos e em português nos desentendemos. Sempre... na língua portuguesa! CMC
5:27:00 da tarde
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