terça-feira, novembro 08, 2005
[1.554/2005] Excitações
Muito se excitam os comentadores da nossa praça com o avanço de Manuel Alegre. Desde parangonas que dizem ser Soares o adversário de Alegre e que depois, no conteúdo, citam Alegre a dizer que não o é, a acusações de que Alegre é contra os directórios partidários tentando provar incoerência no percurso "aproveitando os sentimentos antipartidários e o desprezo nacional pela classe política, um homem do sistema passou a dirigir-se ao voto contra o sistema" (Daniel Oliveira - Expresso 5/11), a outro que entende que "o que ele acha, e bem, é que esta incursão eleitoral fortalece o seu grupinho dentro do PS e prepara a futura remoção de Sócrates." (Pulido Valente - Público 6/11), a Constança Cunha e Sá que não largou o tema da disputa Alegre/Soares durante toda a entrevista de ontem na TVI e por aí fora, acabando no prezado Vital Moreira a transcrever no Causa Nossa o que acha ser a razão da candidatura, informando-se esclarecido, como se um impulso fosse uma razão.
São excitações, só excitações.
Começando pelo fim, Vital Moreira sabe, penso que sabe, que impulso e razão são coisas diferentes. Para além disso também sabe, penso que sabe, que Alegre não fez desse impulso uma razão. Já o disse milhentas vezes e as suas razões estão escritas e podem ser consultadas, por exemplo, aqui. De qualquer forma as ideias-base das razões de Alegre centram-se naquilo que ele defendeu toda a vida: Liberdade, cidadania, participação, renovação e solidariedade.
Quanto à entrevista da TVI confesso, conhecendo Alegre, que não esteve ao seu nível habitual de argumentação. Constança Cunha e Sá sabia, julgo que sabia, que o mais difícil para Alegre era a gestão de silêncios e falas sobre o diferendo com Soares. Sabia-o e fez disso o mote da conversa frente às câmaras da TVI quando todos esperávamos que centrasse a entrevista no interesse dos portugueses que, como se sabe, é o de conhecer o que fará Alegre depois de ganhar as próximas presidenciais. Alegre caiu na patranha e deixou-se ir por aí. A armadilha seguinte foi o comentário que Inês Pedrosa terá feito quando foi publicada uma sondagem que dava a vitória a Cavaco e apresentava Alegre em segundo lugar. Constança sabia, julgo que sabia, que o júbilo de Inês não era referente à vitória anunciada, mas antes e somente ao facto de Alegre se encontrar melhor posicionado que os outros candidatos. Constança sabia, julgo que sabia, que a assim ser, isso pouco importava para a entrevista uma vez que os portugueses o que queriam saber era o pensamento que Alegre defende para a Presidência. Tempo perdido com baixa política, está bem de ver.
Quanto a Pulido Valente, eu sei que ele sabe, julgo que sabe, que a disputa é para a Presidência da República assim como sabe, julgo que saberá, que quando Manuel Alegre for Presidente da República nem terá, como nunca teve, grupinhos dentro do PS, nem preparará qualquer remoção de Sócrates, como nunca preparou. Pulido Valente sabe, porque leu o manifesto eleitoral de Alegre, julgo que leu, que aquilo que Manuel Alegre propõe é coisa diferente. Vasco ouviu, julgo que ouviu, que o Contrato Presidencial que Manuel apresentou, sem mitos sebásticos ou sidonistas, incluiu a promoção de um Pacto económico e social com vista ao futuro e as ideias-base para uma sociedade de confiança fundamentada nos valores da Pátria e da cidadania. Terá lido, penso que sim, por exemplo, a afirmação de que (...) "A cada órgão de soberania as suas competências. Sou partidário da separação de poderes e da cooperação institucional. Jamais tratarei os outros órgãos do Estado como forças de bloqueio. " (...)
Finalmente quanto a Daniel Oliveira ele sabe, penso que sabe, que Manuel Alegre não só não é contra os Partidos como é, ele próprio, um dos fundadores dos Partidos em Democracia. Ele, Oliveira sabe, julgo que igualmente sabe, que Alegre nunca poderá "aproveitar os sentimentos antipartidários e o desprezo nacional pela classe política" porque, ao contrário de outros, Alegre sempre se reconheceu como Político e é nessa condição que concorre à Presidência da República. Daniel sabe, julgo que sabe, que as eleições presidenciais são feitas com base na cidadania e que os Partidos, embora fazendo parte dessa cidadania não a esgotam. Aliás, Daniel sabe, julgo que sabe, que Alegre não só não é um candidato contra o sistema, como, ele próprio, é um dos defensores do sistema. Finalmente Daniel saberá, julgo que saberá, o que a Constituição determina sobre a matéria, que é, nem mais nem menos, de que a eleição presidencial é independente dos Partidos. Mas se não sabe, ou não consegue perceber, talvez possa pedir a Joana Dias, sua colega de Partido, que lhe explique, porque ela, pela atitude que tomou como mandatária de outro cidadão, sabe.
Enfim, muitas excitações. Ao importante ninguém liga, julgo que já toda a gente sabe. LNT
1:51:00 da tarde
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