quarta-feira, dezembro 28, 2005
[1.863/2005] A única ambição do Professor de Boliqueime
Caro Graza, No seguimento do diálogo que estabeleci com o Rui, e depois de ler o seu comentário (texto 1.860), devemos ter bem presente qual a ambição do Professor de Boliqueime, se eleito Presidente da República. O objectivo do Professor de Boliqueime, e não é dito de forma clara na campanha eleitoral, o que é de lamentar, é bastante claro: assim que se sentar em Belém inicia um trabalho político que visa um único objectivo político: um Presidente, um Governo, uma maioria. A ambição é legítima. Estamos em democracia. Mas o projecto pessoal do candidato e da clique que o acompanha desde sempre é que é muito preocupante. Porquê? Não se deve ao facto de ser um tecnocrata, respeite-se a sua honorabilidade profissional. Não há mal nenhum na sua qualificação. Porém, como político, escapam-se-lhe os projectos de longo alcance, mingua-lhe a doutrina. O senhor é parco de ideias. O passado prova a falta de visão estratégica para o país. O candidato bebeu algumas ideais de Sá Carneiro, de quem foi Ministro, mas falta-lhe a substância. Conforme lhe disse há dias um candidato presidencial, num dos debates, ele não é social-democrata, apesar de se apresentar como tal. O partido que ele presidiu não pertence à família política europeia social-democrata. No debate tentou disfarçar a questão. Sem saber o que dizer, recordou-se de mais uma das doutrinas inspiradoras de Sá Carneiro e disse que era personalista. Se calhar é pouco familiar dos escritos de Mounier*. Mas também não é pecado não os conhecer, ou identificar-se com eles. Todavia, deste breve apontamento, resulta muito claro um ponto, de Sá Carneiro ele apenas bebeu a lógica do poder: um Presidente, um Governo, uma maioria. Nada mais do que isto. E agora, aquele grupinho que se formou no início da década de 80 no Ministério da Fazenda, penso que é dispensável enumerar as pessoas que constituíram o gabinete do Ministro, pois sempre o acompanharam e estão presentemente na sua Comissão Política, estão dispostos a atingir o desejo: um Presidente, um Governo, uma maioria. Porém, a ambição política de Sá Carneiro era mais vasta do que a do actual candidato. O poder não se deve alcançar como fim, mas um meio para. Havia um porquê, não uma mera ambição do poder só porque sim. A lógica reinante entre 85/95, de ocupar e dominar o poder só pelo poder, de tachar (de tachos) o Estado para o dominar e nada fazer, de não promover a qualidade, de subsidiar a mediocridade de uma geração política que despertou nessa década e anda por aí há solta quem nunca fez mais nada a não ser carreira na jotinha, está a regressar. A ambição desmesurada da mediocridade política reinante entre 85 e 95 está de regresso. De que tudo é fácil, desde que o cartão partidário sirva, ainda que o discurso formal aparente austeridade. Balelas. Engodos e pouca honestidade intelectual. A ambição de redesenhar os poderes, a partir de Belém, está aí. Não se pense que o senhor vai violar o poder constitucional. Não vai. O senhor e os que o acompanham são espertos e vão manter o formal intacto, mas não vão manter o real. Resta saber se as condições políticas dos próximos anos são propícias ao despejo do actual Governo, ou se tem de o aguentar até 2009. Resta saber quem lhe interessa ter à frente do PPD, para seguir as ordens em São Bento a partir de Belém. Entre outros factores. A ambição não é dita, mas é bem clara. Resta saber quantos portugueses querem apoiar esta ambição, de uma presidencialização do regime. O mais preocupante nem é tanto a arquitectura do poder, que se pode, e até deve, ser colocada em causa. O mais preocupante são os intérpretes. Sabemos o que fizeram, sabemos o que podem vir a fazer. Nós sabemos quem eles são e ao que vêm. CMC P.S. - O redactor reverencia o autor da pintura que ilustra o artigo, Rui Perdigão. * - Por mero escambo indiquei Morin como pai do personalismo, todavia o pai verdadeiro é Mounier e não Morin. Está feita a correcção e apresento desculpas por ter induzido em erro.
3:13:00 da manhã
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