domingo, janeiro 29, 2006
[0.091/2006] A oportunidade que o Hamas merece
Esta tarde, a BBC promoveu um debate sobre as eleições palestinianas. Infelizmente não vi todo, mas gostei do que ouvi. Os presentes foram unânimes quanto ao decorrer das eleições na Palestina. Não houve incidentes no dia das eleições, não houve o mínimo rumor, quanto mais possibilidade, de deturpação dos resultados expressos pelas urnas. A Fatah não queria as eleições em Janeiro, mas o Presidente Abbas, e bem, assumiu o compromisso da data eleitoral. E o dia do sufrágio, há muito agendado, correu bem. Este é um facto incontornável. Se o facto do Hamas chegar ao poder preocupa, não nos esqueçamos do que já fizeram, por outro lado, deve salientar-se, como um dos intervenientes no debate do canal britânico referiu, a posição do grupo nos últimos meses. Nenhum atentado foi perpetrado e, após a eleição, não se ouviu nenhum dirigente do Hamas decretar guerra aberta e frontal a Israel. Aliás, momentos antes, a BBC entrevistara um responsável do Hamas que fugiu à questão: está o Hamas contra a existência do Estado israelita? O dirigente do Hamas preferiu dizer que os palestinianos têm os seus direitos. Concordo com as palavras de um dos intervenientes do referido debate, é preciso dar uma oportunidade ao Hamas, pois os palestinianos escolheram livre e democraticamente os novos parlamentares e, por consequência, o novo Governo. Não pode, agora, o Ocidente, de forma totalmente desfasada da realidade e vontade palestinianas, contrariar a escolha das pessoas e desterrar, desde já, um Governo, que ainda nem está constituído, muito menos traçou as suas linhas directrizes, nomeadamente no que concerne à relação com Israel. Há uma oportunidade que não pode ser perdida e o Hamas bem pode estar à beira de renunciar a um dos seus principais princípios e, finalmente, reconhecer a existência de Israel. Quanto à Fatah outra coisa não seria de esperar quando se sai do poder. A verdade é como o azeite. Importa relembrar que foram muitas as pessoas, e algumas delas bastante qualificadas, que nos últimos anos saíram da Fatah pelo motivo que hoje afoga a formação política derrotada, a corrupção. Só não quis ver quem não quis e, obviamente, quem lucrava com a situação. Os próximos tempos serão incertos, pois falta encontrar o novo intermediário do lado israelita. Se, como tudo indica, o Kadima vencer, novas e prósperas conjunturas podem surgir no Médio Oriente. O Hamas sabe que a sobrevivência da Palestina, enquanto Estado depende de Israel, os mais de 10% de desempregados são um pesado fardo. E Israel sabe que precisa de alguém, no lado palestiniano, que controle os radicais. Quem melhor, se quiser, do que o Hamas? Naturalmente, predisposições, inquestionáveis e sem abertura, semelhantes às do senhor de Teerão, não merecem grande tipo de trato. Teremos um Hamas a desligar-se do radicalismo e entrar na via moderada? O poder muda muito as pessoas e as organizações. CMC P.S.- A todos os que nos saudaram pelo segundo aniversário, o nosso muito obrigado. O TUGIR é feito na justa medida da interacção com os outros blogueres e todos aqueles que comentam (n)este blogue.
7:22:00 da tarde
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