domingo, abril 16, 2006
[0.471/2006] Trabalho Princípio e Valor Socialista
Regesso à questão do CPE, por várias pessoas terem evidenciado o seu apoquento com a minha postura nos últimos dias. Alguns blogueres, como o simpático JAM ou o prezado Miguel, e alguns camaradas, um deles até me disse há dias que tinha assumido uma "postura radical", manifestaram o seu ponto de vista e desagrado com a minha leitura. Eu respeito os argumentos apresentados. Não é uma postura radical que assumo. É uma atitude responsável e fundamental, de acordo com os princípios da esquerda democrática e progressista. Tive, na altura, oportunidade de sublinhar que o CPE não era perfeito. A actual situação laboral francesa, como está, não favorece ninguém. Aliás, só favorece quem está acomodado e quem pouco se importa com as mudanças que ocorrem na Europa e no mundo. Como indicava o artigo sobre a revogação da lei, publicado no semanário português de maior tiragem na passada sexta-feira, os jovens dos subúrbios, onde o desemprego chega quase a rondar os 50%, e os que mais beneficiariam com a CPE, continuarão a ficar na mesma. Pelos vistos, há quem se admire com as atitudes dos jovens que incendeiam os carros, como ocorreu no passado mês de Novembro. Há quem se esqueça ou não queira interpretar os sinais que a sociedade dá. Contudo, o mais estranho de tudo, especialmente dos camaradas que me fizeram chegar o seu ponto de vista de desagrado total do CPE prende-se com o princípio em causa. O Direito ao emprego. Alguns assumiram uma postura semelhante à esquerda corporativa, pelo menos assim entendi, muito interessada em defender os privilégios dos que querem estar instalados e completamente desinteressada dos milhares de desempregados. Se há valor estrutural e fundamental para o socialismo, esse princípio é o do trabalho, a par da coesão social. Pontos interdependentes e complementares entre si. Princípios, por exemplo, pouco importante para as doutrinas adeptas do sucesso económico independentemente da realidade social. Assiste-se, por toda a Europa, a uma onda de desemprego, crescente, nas faixas etárias mais novas e, também, nas de meia-idade, que são relegadas para fora do mundo laboral. Ao invés da esquerda corporativa, defensora dos privilégios, o socialismo sempre assumiu os direitos dos trabalhadores, qualquer que seja a sua condição social e económica, como fundamentais. E hoje, o desafio prende-se não só com a defesa dos direitos dos empregados, mas também com a procura de condições de empregabilidade para milhares de desempregados. Quando uma pessoa está empregada, e sente-se intocável na sua função laboral, as preocupações com a realidade do mundo do trabalho tendem a diminuir. Mas importa recordar que somos elementos da sociedade, não simples unidades que se somam e/ou subtraem. Infelizmente o desemprego é a realidade de muitas pessoas e a sua estabilidade pessoal, familiar e social é afectada. Importa criar oportunidades de trabalho, não resignar com a presente situação laboral. Finalmente, uma palavra para o estimado JAM, que me aconselhou a mudar de postura, se quiser fazer carreira partidária. Caro JAM, agradeço a atenção e o conselho dado, mas carreira, só do autocarro. E no PS, felizmente, os militantes têm direito a exprimir a sua opinião. Ao contrário de outros partidos, a militância no PS não se traduz em aquiescência com o que a oligarquia determina, tal como (já que os referiu) Brandt e Soares demonstraram com a sua militância. CMC
10:42:00 da tarde
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