sábado, maio 27, 2006
[0.620/2006] Os alhos e os bugalhos
Caro Luís, Que análise tão enviesada, o texto imediatamente abaixo apresenta. Quem falou em passeatas pelo Tarrafal? Quem referiu ou omite o que se passou no Aljube? Quem nega a existência do Limoeiro? Ou quem apaga da memória o que havia em Peniche? O que se trata, aqui, é de analisar as ditaduras. E as diferenças entre a portuguesa e a italiana existem. Só não vê quem não quer e só emparelha a doutrina das duas ditaduras quem pretende iludir ou quem desconhece os fundamentos de cada regime ditatorial. Desde já, importa enfatizar, pois há quem possa pensar que este factor não é tido em consideração, quando é um instrumento inato a qualquer regime autocrático: uma ditadura, qualquer que seja a sua orientação, tem ao seu serviço uma polícia política cujo o objectivo é suprimir tudo e todos aqueles que têm uma concepção diferente do regime ditatorial e, principalmente, se opõe ao regime. Quanto às diferenças entre o regime ditatorial português e o italiano elas existem. Primeiro, o regime fascista é uma criação genuinamente transalpina; tem como pilares algumas concepções socialistas revolucionárias, fruto da militância pessoal do fundador do fascismo italiano, aliadas a uma acção sustentada nas teses de Sorel (que também, por sinal, inspirou a ditadura soviética); o partido é um instrumento fundamental para alcançar o poder e, uma vez instalado, exercer uma política expansionista (importa recordar que as duas ditaduras existiram no período colonial). Pelo lado lusitano, temos uma ditadura conservadora, fruto do percurso pessoal do ditador; que despreza qualquer sinal de revolução; despreza o instrumento partido político - a formação política existente no Estado Novo, União Nacional, nem tem características de partido político, pois para o ditador os partidos, eram abjectos; e, ao contrário do ditador italiano, a sua política era de preservar, não de expandir. Caro Luís, Quando estamos a falar num campo técnico, sabe-se que as apresentações dos dicionários são sempre insuficientes para a análise. Por exemplo, pegando na descrição de fascismo do Houssais, vemos que nela está inscrita a palavra raça. Mas a palavra e o sentido raça ganha preponderância devido ao nacional-socialismo. Este sim, com bases doutrinárias totalmente copiadas ao fascismo, uma ditadura que se viria a transformar em totalitarismo (há diferenças, na linguagem técnica, entre ditadura e totalitarismo). Ainda regressando à questão raça, o termo era empregue pelos regimes italiano e português, mas a expressão ganhou preponderância, e o cunho ficou, devido aos hediondos actos perpetrados pelo III que Reich em nome da raça. Se a abordagem ao assunto for feita pela rama, há quem possa considerar o Estado Novo um regime fascista, ou outro regime "ista" qualquer. Se quisermos ser rigorosos na análise, incorremos em erro, catalogando o Estado Novo como fascista. Está tudo patente, e bem claro, nos escritos e na prática dos dois regimes. Basta ir à fonte e ver para notar as diferenças. Tive o cuidado de no texto 619 referir as cópias feitas pelo Estado Novo. Mas se há dúvidas pela genuína ligação e gosto do senhor de Santa Comba Dão pelo ditador italiano e pelos seus princípios, convinha recordar o que a ditadura portuguesa fez a Rolão Preto e seus acólitos no início da década de 30 e por que fez. Em suma, o Estado Novo foi uma ditadura ultra-conservadora, baseada numa trilogia bem conhecida: Deus, Pátria, Família. É evidente que a semântica é de direita. Nunca uma ditadura de esquerda podia empregar qualquer destas expressões. Quanto a Humberto Delgado, sabe-se que foi a polícia política que o assassinou. Quem o omite? Só o agente da referida polícia que reside actualmente em Madrid. A História não se deve branquear, mas também não se deve deturpar. Isto, claro está, se quisermos analisar com rigor. O resto, caro Luís, são falácias ou é falar de cor... É como o ocidental, pouco sensível às diferenças, que vê um coreano e um japonês e, não destrinçando as diferenças bem como as origens, pensa que os dois são chineses, só porque têm os olhos em bico. CMC
9:55:00 da tarde
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