segunda-feira, junho 12, 2006
[0.695/2006] Referendo de Pirro?
A possibilidade de uma guerra civil na Palestina existe desde que o Hamas ganhou as eleições em Janeiro. A Fatah não aceitou com agrado o resultado eleitoral e as diversas tentativas de coarctar o Governo do Hamas foram realizadas. Além das questões endógenas, acresciam as questões externas, que na Palestina, por vezes, acabam por ser maiores do que as internas. O Presidente da Autoridade Palestiniana, da Fatah, passou a ser o único interlocutor com o exterior, com algumas excepções, dado que a Comunidade Internacional não reconhece ao Hamas legitimidade para dialogar, visto que esta organização não aceita a existência do Estado de Israel. Por outro lado, à medida que a tensão interna entre as duas forças crescia, mais se colocava e auto-colocavam em xeque os dois principais cargos: o do Presidente e o do Chefe de Governo. E se os dois podem não sair ilesos, pelo menos um pode sair triunfante. Como o segundo é subalterno ao primeiro em termos de hierarquia, a faca e o queijo está na mão do Presidente, que faz uma jogada de mestre: convocar um referendo sobre o reconhecimento de Israel. O Presidente palestiniano está a assumir uma parada elevada. Primeiro, encosta o Hamas à parede. Se internamente este encosto pode ser esclarecedor quanto à postura do Hamas perante o Estado de Israel, externamente, o Presidente assumiu a posição que alguns Estados queriam ver o Hamas assumir: são ou não favoráveis à existência do Estado de Israel? Está ou não o Hamas disposto a mudar os seus princípios programáticos e reconhecer, definitivamente, Israel? Por outro lado, com o referendo, de certo modo, o Presidente pode colocar em causa a legitimidade eleitoral do Hamas, há poucos meses alcançada nas legislativas, caso o sim seja maioritário. Caso o sim vença, este resultado pode acelerar o derrube do Governo do Hamas e conduzir este grupo, outra vez, à posição de organização defensora e perpetradora de ataques terroristas contra Israel. Que muitos dos seus dirigentes, diga-se em abono da verdade, são apologistas. Continuo a pensar que devia ter sido dado protagonismo ao Hamas moderado, procurando anular o Hamas ortodoxo. Deste modo, os moderados estão a perder a sua força e a ala extremista está mais próximo de fazer vingar, perante milhões de palestinianos, a sua leitura da situação. E, não esquecer, a latência da guerra civil. Um referendo de Pirro para o Presidente palestiniano? A Paz continua a não estar ao alcance. CMC
10:36:00 da tarde
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