quinta-feira, julho 20, 2006
[0.858/2006] Lusofonia - Traumas
Caro José Flávio, Noutro texto aludirei às questões estruturais, merecedoras da nossa atenção, mas, para já, centremo-nos nos traumas, que não devem ser tão desprezados quanto se possa considerar inicialmente. Apresento um caso de um cidadão brasileiro, que numa caixa de comentários do TUGIR deixou dois parágrafos elucidativos do trauma da relação luso-brasileira: Vocês portugueses gostam de dizer nós brasileiros não falamos "bem" o "português" e se Deus quiser nunca o faremos pois a língua do Brasil é brasileira e não portuguesa. Acredite, um dia a arrogância lingüística sua e do seu povo será responsável pelo fim do termo "língua portuguesa" no Brasil. E neste dia eu comemorarei muito o fim da última referência portuguesa em solo brasileiro, Portugal que já não é nada no mundo passará a ser menos ainda. É evidente que as palavras de Otávio Noriev (o título do seu blogue não deixa margem para dúvidas de qual a posição que assume) não são, felizmente, as do Estado brasileiro. Basta passar na página do Governo do Brasil para comprovar qual a língua oficial da Terra de Vera Cruz. Devo referir, a propósito da página do Governo brasileiro, que esta merece, do meu ponto de vista, uma crítica. Ao consultar a História do Brasil o internauta, mais distraído, pode ficar com a sensação de que só há Brasil quando os portugueses chegaram. Como se antes de 1500 não existisse mais nada naquele território. Quanto ao adjectivo da língua, que o cidadão brasileiro tanto despreza, infeliz e miserável o Estado que quiser impor a sua ortografia aos demais países que tem o português como língua oficial. Quem faz e dá sentido à língua são os seus utilizadores. O português falado no Brasil nunca será o que se fala em Portugal. O mesmo se passa nos restantes países. Qualquer pessoa sabe que há diferenças tanto a nível ortográfico como fonético. Aliás, em Portugal há diferenças fonéticas, basta atentar à linguagem das várias regiões do país. É evidente que o comentário acima exposto pertence a uma certa orientação, existente no Brasil sobretudo a partir da década de 20 do século XX, que considera o colonialismo luso (e também o espanhol) inferior, quando comparado com os outros colonialismos europeus. Isto, de certo modo, são traumas, que surgem, principalmente, quando se explora a identidade nacional - e o Brasil tem tantas identidades! Quanto à relação lusa com os PALOP, a descolonização é, ainda hoje, todos sabemos e sentimos, uma matéria, e trauma, bem presente no quotidiano das diversas sociedades que atravessaram o 25 de Abril. Os traumas não devem ser preponderantes, mas também não podem ser ignorados na abordagem que fazemos à CPLP. Voltarei ao tema da CPLP, para abordar a questão estrutural. Este texto deixa, no meu entender, uma ponte (inexistente) de ligação, entre os traumas e a estrutura: a identidade. Não será a ausência, ou melhor, a inexistência de uma identidade lusófona, caro José Flávio, que faz da CPLP uma organização esfíngica? CMC
9:53:00 da tarde
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