sexta-feira, outubro 06, 2006
[1.179/2006] Moção socialista
Caro Pedro, Concordo com o teu ponto de vista. Penso que uma moção global devia apresentar um rosto que disputasse a liderança do partido e tal não vai suceder no próximo Congresso do PS, com excepção da subscrita pelo Secretário-Geral. Das três moções que os congressistas vão apreciar no próximo Congresso, apenas li a intitulada Solidariedade e Cidadania. E do que li, devo confessar-te que não me agradou. As premissas ideológicas expostas, logo no início, assentes numa lógica de luta de classes, ainda que sub-repticiamente apresentadas, estão, do meu ponto de vista, esgotadas há muito tempo. O mundo mudou e o texto apega-se a uma concepção dicotómica da sociedade. Depois, num dos pontos fulcrais para todos nós, a política europeia, pouco tratada no texto, é assumida uma postura pouco interessada no aprofundamento do projecto europeu, como se hoje, para dar resposta aos desafios complexos com que nos confrontamos em Portugal, na era da globalização, menos Europa mais Nação representasse mais segurança para os portugueses. Muito pelo contrário, como provam as áreas do Trabalho, da Imigração, do Ambiente, do Comércio, da Energia, entre outras. E, cereja no topo do bolo, no final da moção, a pretensão de discutir no Congresso o resultado das presidenciais. Aludindo explicitamente ao número de votos do socialista não apoiado pelo partido - e no qual eu votei. Os problemas da actualidade merecem mais atenção. Mas, há quem queira retirar ilações e empregar mais energias no passado do que encarar o presente e o futuro. Não que o passado não mereça atenção. Pois merece e as presidenciais são uma grande lição para o PS. Analisando as presidenciais de Janeiro, não é preciso muito tempo para rapidamente se deduzir e chegar à conclusão que o PS não tinha um candidato com projecto de futuro. Os portugueses disseram isso nas urnas. Os que podiam assumir uma candidatura não quiseram avançar e a esquerda perdeu as eleições. Respeite-se a vontade dos portugueses. Por outro lado, por falar em Presidente, os subscritores da referida moção sentem-se pouco confortáveis com a relação entre o Governo e o Chefe de Estado. O Presidente desempenha o seu papel. Assim como o Governo assume o seu. Podem surgir dificuldades no futuro, como alvitra a moção? Provavelmente. Mas, não nos esqueçamos, o Governo, no nosso sistema político, tem a faca e o queijo na mão, mesmo que o Presidente tenha o poder da bomba atómica. Se o Executivo desenvolver um bom trabalho, por muito que o Presidente não simpatize, o que duvido, pois quando o progresso está em marcha todos se querem associar a ele, o Chefe de Estadi tem poucos argumentos para despejar o Governo das suas funções. Neste caso, se o demitir, sujeita-se a que as urnas reprovem a sua atitude. (Por falar em importância e lições do passado, lembremo-nos de 1987 e 2004.) Por isso, talvez a atenção se devesse centrar mais nas políticas do Governo. Mas com uma leitura descomplexada da luta de classes que transpira ao longo de grande parte do texto e é anacrónica. Uma última referência, pois o documento dirige-se e é tratado num congresso partidário. Não constato no texto qualquer referência à valorização das bases do partido. Há uma alusão à abertura do partido ao exterior. Com a qual concordo. Mas, e os militantes de base? Não vejo uma única referência, quanto mais preocupação. A militância de base carece de refundação urgente. É preciso dar sentido à militância, que, naturalmente, já não é a mesma, nem se pode exercer como há 10 ou 20 anos. O partido tem bons quadros nas bases e andam arredados da militância, por não encontrarem espaço aliciante e convidativo à participação. Talvez os subscritores, que por sinal são dirigentes nacionais, se esqueçam que há mais partido além das estruturas nacionais. E, salientando o facto de serem dirigentes nacionais, quando defendem, e bem, a luta contra a "cunha", já a deviam ter defendido e assumido há mais tempo, porque há muito tempo que são dirigentes nacionais do PS. Caro Pedro, continuaremos a dialogar e, certamente, abordar as outras moções. CMC
2:28:00 da manhã
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