sábado, novembro 18, 2006
[1.424/2006] Preconceitos anacrónicos
Leio com regularidade os escritos de João Gonçalves. Apesar de na maioria das vezes não concordar com os seus pontos de vista, gosto de ler, pela consistência da argumentação. Todavia, por vezes, o autor do Portugal dos Pequeninos tem escritos pouco congruentes. Como este. O que incomoda João Gonçalves, como Fabius, e outros homens, ao verem mulheres em cargos de poder ou mulheres que pretendem ascender ao poder, é o facto das suas concepções estruturais sociais não admitirem uma mulher como líder, como se ela não tivesse os mesmos direitos, obrigações e qualificações dos homens para o desempenho das funções públicas. Felizmente, a sociedade está a mudar neste aspecto e as mulheres não são as únicas donas da vida doméstica, por determinação secular masculina, nem os homens os únicos proprietários da condução da res publica. No caso de Ségolène, há outra agravante, ou melhor, outro drama para os conservadores do poder másculo, que tentam disfarçar com um sorriso rasgado na face: a beleza da mulher. Tentando fazer jogo com a convenção social dominante - no campo do inconsciente, que mulher bela é sinónimo de burra, tentam, com esta arteirice, desvalorizar a qualidade da candidata, por sinal, a mulher que ousou colocar em causa os alicerces do socialismo dogmático em que parte do PSF se enclausurou, e, deste modo, directa e indirectamente, os alicerces de uma França pesada e lenta na era da globalização; e, ainda por cima, Ségolène ganhou aos barões do partido. Tudo isto incomoda e abala as concepções do reduto machista, para quem mulher é apenas líder nas questões domésticas. Que João Gonçalves simpatize com o Ministro bastonada e as suas políticas securitárias, é uma coisa, até porque se calhar concorda com o ponto de vista de Monsieur Nicholas. Agora que o faça, como apresenta, só por a sua adversária ser mulher, é que se lamenta. Enfim, redutos que estão a definhar. Ontem no Chile e na Alemanha. Amanhã, espero, na França, e depois, oxalá, nos Estados Unidos! O Ocidente, que tantas vezes quer dar lições de paridade e igualidade a outros pontos do globo, esquece-se que no seu seio ainda tem de derrubar certas barreiras e mitos. CMC
2:52:00 da tarde
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