segunda-feira, novembro 27, 2006
[1.447/2006] A viagem mais política deste Papa
Os estrategos diplomáticos da Santa Sé continuam a demonstrar como tem uma enorme habilidade para aproveitar os momentos delicados em seu favor. Longe vão os tempos, há três anos sensivelmente, quando muitos elementos do Vaticano ficaram desagradados por o preâmbulo do Tratado Constitucional Europeu não ter qualquer referência à marca católica, que sempre existiu na Europa, como bem assinalaram, esquecendo-se, contudo, de referir, também, a marca judaica e islâmica no Velho Continente. A visita do Papa à Turquia, neste momento, é tudo menos inocente. O momento delicado que se vive é em tudo favorável para provocar um impacto desejado pelo Vaticano, tanto na Turquia como nos Estados-membros da UE. Ou seja, adiar para as calendas a adesão da Turquia ao espaço comunitário. Por um lado, com a visita, poucos meses depois da pouco entendida intervenção do Papa numa cidade alemã (terá sido mesmo mera infelicidade na estruturação do discurso ou a palestra era mais premeditada do que a ingenuidade dos ouvintes?), atiça-se o lado turco. Já hoje desfavorável à adesão na sua maioria, segundo sondagens recentes mais de dois terços, ao contrário de há três anos, quando a maioria se declarava pró-adesão. Por outro, procura-se provar, sem nenhuma autoridade do Vaticano expressar, de modo a não comprometer a sua imagem, à maioria dos Estados-membros e respectivos povos da UE como as manifestações, que se podem ver na televisão, da "rua árabe" (a Turquia não é um país árabe, mas o estereótipo está há muito criado, bastando para tal aparecer multidões entre as quais avultam o crescente, como escudo e identidade dos manifestantes radicais, e símbolos do Ocidente a ser alvo de vilipendio) de como a Turquia e os turcos manifestam desprezo pela Europa e pelos valores europeus. O Papa é um político, não nos esqueçamos, e esta visita, mais do que ecuménica, é puramente política. A deslocação ocorre, precisamente, quando UE e Turquia tratam de dossiers sensíveis, procurando alguns líderes europeus assacar aos turcos atitudes e responsabilidades que os próprios não assumem. Não havia melhor momento para provocar a quebra do elo já de si frágil. Espera-se que haja lucidez, na UE e na Turquia. Neste Estado reside grande parte da segurança e estabilidade europeias, tanto intra como extra fronteiras. CMC
1:08:00 da tarde
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