quinta-feira, março 22, 2007
[0.364/2007] Os fantasmas que se desvanecem
Ainda a propósito do ditador de Santa Comba Dão, nota-se, nos últimos anos, que a sociedade portuguesa está a lidar com a figura de modo menos complexado. Os fantasmas do passado estão a esbater-se com o tempo, como é natural, e já só os têm aqueles que estão presos a uma era que receiam regressar e outros que a desejariam - época, regime e mentalidades que não têm mais retorno. Este concurso da RTP, que pode ter muitos defeitos, não pode, todavia, ser acusado de não ter deixado de suscitar referência e debate de momentos importantes da História de Portugal, assim como dos seus intérpretes-mor, nomeadamente a mais controversa do imaginário português contemporâneo. De certo modo, o espírito do debate que há dois três anos se gerou na Alemanha, com o filme "A Queda", que retratava as últimas horas do líder do III Reich, que descomplexava a imagem da personalidade despótica, assumindo-o como o humano e não como o monstro, tem sido assumido em Portugal, no que se refere ao principal rosto do Estado Novo. Por mais ódio ou paixão que provoque, fazendo uns do senhor o Diabo e outros o Deus, a personagem precisa de ser encarada como o humano, que soube governar este país durante 40 anos com hábil destreza. Tal como na Alemanha se disse, não foi um monstro que provocou a morte de milhões de pessoas, foi um humano. É nesta desmistificação lusa da personagem que o debate e o país têm a ganhar, de modo a conviver com decência e sem traumas com o passado recente. O senhor nem foi o super-homem do país que uns quantos o querem fazer, nem o monstro da nação que alguns pretendem descrever. Foi o tirano, com todos os traços do português típico. Traços estes que, de largo modo, o permitiram permanecer tanto tempo no poder. Se não conhecesse tão bem a Alma deste povo, de como lhe agradar, como poderia o senhor ter governado tanto tempo? As páginas da Visão de hoje, reservadas ao senhor de Santa Comba Dão, são um belo contributo para este debate, que se quer livre de fantasmas e tabus. CMCEtiquetas: Estado Novo, Portugal
4:07:00 da tarde
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