terça-feira, maio 08, 2007
[0.577/2007] A esquerda dogmática e desfasada
Num interessante debate, realizado ontem à noite pela RTP, continua a evidenciar-se a lucidez do jubilado Professor Catedrático do Instituto Ultramarino. Não concordo com vários dos seus pontos de vista, leituras diferentes do mundo, mas o senhor continua a possuir uma lucidez intelectual atrozmente invejável. À esquerda, infelizmente, ouvi, amiúde, argumentos desfasados do tempo actual, chegando a espantar-me com o argumento da esquerda radical, que lamenta o modelo político vigente nas décadas de 60 e 70 tenha definhado a partir de 80. Como se o mundo não tivesse mudado. Pelos vistos, ainda há quem pense que a URSS caiu pelo neoconservadorismo emergente em 1980. Bastava estar atento às palavras de Tchernenko para se perspectivar a inevitável queda do império soviético, que ruiu, sobretudo, por dentro. Por mais que os neoconservadores se gostem de arvorar como os artífices do derrube do comunismo - como se pode empregar as palavras de Marx: a génese da destruição estava contida dentro do sistema soviético. Adiante, porque não estou parado nem agarrado à lógica cognitiva da Guerra-Fria, como muitas esquerdas,e também direitas (veja-se a da Polónia), ainda hoje estão. Enquanto parte substancial da esquerda for dogmática com os seus princípios, como ontem ouvi reiteradamente aos dois intervenientes, e a esquerda progressista não for fiel a um dos valores inatos à social-democracia, da manutenção dos princípios adequando-os aos tempos presentes, é a esquerda que permanece estagnada no tempo. Este é um tempo novo, com novos desafios. Conceber o mundo sem ter noção do que havia e do que há, com a globalização, é anular qualquer proposta congruente. A globalização, ao contrário do que se diz, tem atenuado a miséria. Dados recentes provam isso. Só não nota isto quem prefere ver a superfície do dia-a-dia, sem qualquer noção de horizonte. Há pobreza e miséria no mundo? Há, infelizmente, que há muita. Mas há menos do que havia anteriormente. E com isto não refiro que vivamos num tempo de rosas. Pelo contrário, há muitos e perigosos espinhos. Assumir uma interpretação típica de neoconservador, da dicotomia, como muitas pessoas da esquerda fazem, mimese perfeita da forma de actuação, não de conteúdo, claro está, é um passo, não só unilateral, como irresponsável. A globalização é uma oportunidade, não um logro. CMCEtiquetas: Política Geral
11:04:00 da manhã
. - .
Página inicial
. - .
Comentários (2)
|
|