sexta-feira, julho 27, 2007
[0.984/2007] Terá sido? Algo foi assim!
A publicação deste livro causa um profundo impacto, desde logo por causa da sua autora e, muito mais, pelo conteúdo que apresenta: as memórias de militante totalmente entregue e serviente do ideário comunista ao longo de várias décadas, com o qual viria a romper radicalmente. Aliás, é a essência do livro, a militância político-partidária, que deu nome e projecção a Zita Seabra em Portugal. Ainda não o comprei o livro mas espero fazê-lo em breve. Li com interesse a entrevista que a antiga militante comunista deu na semana passada à revista do jornal Sol. Porém, antes da aquisição da obra, tive curiosidade de ler qual a interpretação dada pelo partido ao qual Zita tanto entregou e que hoje tanto a despreza. Reza assim a crónica do oficialíssimo Avante: Dizemos nós, em contraponto, desde já: a afronta odiosa que «Foi Assim» transporta contra o Partido Comunista, é de tal monta que os antigos inquilinos do Carmo, depostos no 25 de Abril, teriam gostado muitíssimo, se ainda cá estivessem, de marcar o evento com a sua presença! (...) «Foi assim» é, contra as aparências de um depoimento realista, um texto basicamente de ficção: a narradora conta o seu passado para o reinventar, desacreditando-o. É uma caricatura grotesca e anedótica da clandestinidade como clausura contrariada, a deturpação política intencional da vida partidária e do papel do PCP na Revolução de Abril, etc.. Como seria de esperar, o PCP diz que Zita apresenta uma ilusão. Não sei se o escrito é todo ele uma ilusão. Não parto desse pressuposto. Todavia considerar tudo? Apesar de renegar a sua militância comunista, da entrevista dada ao Sol, percebe-se que Zita Seabra continua a nutrir fascínio por Álvaro Cunhal, não pelos seus ideais, mas pela sua personalidade. O PCP, pelos vistos, continua a ter na descaracterização da individualidade humana um desprezo intolerável, insistindo desse modo, na tese segundo a qual o que conta é o colectivo. Mas um colectivo sem rostos é uma manada. Goste-se ou não da pessoa, Zita Seabra foi um dos principais rostos do comunismo em Portugal. Procurar, como o PCP faz, branquear a história, pretendendo anular Zita Seabra do seu património, é branquear a própria História do PCP. CMCEtiquetas: Literatura
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