quarta-feira, setembro 27, 2006
[1.142/2006] Fuga de Portugal [ II ]
O Fuga de Portugal [ I ] foi um Post escrito de coração nas mãos. Coisa de pai. Suscitou diversos comentários que marcam este Blog. De todos transcrevo o do Pedro do Blog A Partir de Inglaterra porque relata a experiência na primeira pessoa e dá um sinal de esperança. Os motivos que levam estes jovens a partir não se adicionam em estatística, por serem diferentes. Das inúmeras razões que conheço, a que considero mais grave é a relacionada com a falta de condições para progredir ou, como diz Pedro Marques: "Tanto eu como a minha namorada, que viemos juntos à procura do mesmo embora em área diferentes, evoluímos mais neste ano em termos profissionais do que certamente teríamos feito se tivéssemos ficado na nossa casa." Também assisti, no JavaExpo2003 de Madrid, a uma palestra de Manuel Castells (também ele um exilado, embora por outros motivos) onde entre outras coisas fez o mesmo tipo de considerações que o Pedro lhe ouviu na Gulbenkian. Não sei se os cérebros estão a voltar em Espanha. Resta-nos esperar que, por antecipação, se faça algo em Portugal que lhes evite a partida.
O comentário:
"Caro LNT A questão da fuga de cérebros toca-me directamente porque, embora possa ser arrogante chamar-me a mim próprio de "cérebro", também saí de Portugal em busca de outras oportunidades. Quando concluí o meu curso de Sociologia no ano passado decidi vir para Inglaterra prosseguir o meu desejo de trabalhar na Academia e não posso dizer que me tenha arrependido. Tanto eu como a minha namorada, que viemos juntos à procura do mesmo embora em área diferentes, evoluímos mais neste ano em termos profissionais do que certamente teríamos feito se tivéssemos ficado na nossa casa. Mas garanto-lhe que não é fácil... as saudades apertam frequentemente, às vezes relativamente a coisas pequenas como os lânguidos almoços de Domingo ou o calor do fim do dia nos quentes dias de Agosto. Olhando à distância é por vezes difícil explicar o apego que temos a Portugal, mas ele existe e é por isso que tenho quase a certeza que um dia voltaremos todos (ou quase todos). Portugal tem mudado muito nos últimos anos. Com 24 anos de idade apercebi-me dessa mudança enquanto aí vivi e tenho a certeza que para alguém mais velho essa diferença seja ainda mais gritante. Embora ainda prevaleçam "poços" de subdesenvolvimento, geridos por pessoas que vivem do estatuto, da chico-espertice e dos esquemas, muitas outras áreas progridem diariamente para igualar os melhores padrões internacionais. Bem sei que a nossa tão portuguesa tendência para a autocrítica por vezes obscurece a capacidade de ver a luz ao fundo do túnel, mas diariamente vejo nos jornais (aqui é difícil ter acesso a informação sobre Portugal de outra forma, até porque não tenho televisão) que há coisas que vão no rumo certo. Há cerca de dois anos lembro-me de ter visto a primeira conferência que o Manuel Castells deu na Gulbenkian, em Lisboa. Na altura ele abordou a questão da fuga de cérebros em Espanha, porque enquanto consultor do Governo espanhol tinha-lhe sido pedido que os ajudasse a implementar uma estratégia que estancasse a "sangria". A resposta dele foi: não façam nada! Quando estes "cérebros" voltarem a casa de férias tratem-nos bem e eles um dia voltarão, nessa altura com outros hábitos, outra qualificações e, muito importante, outros contactos. Nessa altura a Espanha terá então o seu retorno. Não vale a pena sofrerem com a partida dos que vos estão próximos. As saudades que irão sentir já serão sofrimento suficiente. Estes que agora emigram vão crescer, desenvolver-se pessoal e profissionalmente, abrir os olhos e os horizontes e um dia voltarão. Ou melhor, um dia voltaremos :) "
LNT e comentário de Pedro Marques - Blog A Partir de Inglaterra
1:54:00 da manhã
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Comentários (3)
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