quinta-feira, fevereiro 02, 2006
[0.115/2006] Algumas reflexões Alegres (III) (porque ganhou Cavaco?)
Esta é a terceira reflexão de quatro que me proponho fazer. A quarta (em breve) será sobre o envolvimento das novas tecnologias na última Campanha eleitoral.
Apesar do favor mediático que ao longo dos últimos meses só faltou exigir a entronização de Cavaco, sugerindo à partida já estar eleito, Silva acabou por dispensar uma segunda volta por margem diminuta de votos. Bem longe ficou das maiorias de 60% (e mais) anunciadas. Ficou provado que o quarto poder, embora claramente influente, não determina nem substitui o valor dos votos. Talvez tenha sido decisivo na percentagem que evitou uma segunda volta, mas foi manifestamente insuficiente para obter a "onda de fundo" que pretendeu encher. Também agora pouco interessa se a margem foi diminuta ou não. Temos Presidente, diga-se mais, temos Presidente eleito pela maioria absoluta dos cidadãos-eleitores numa primeira volta. Adiante, porque esta reflexão não é sobre a importância dos líderes de opinião. Reflectirei somente sobre a campanha política. Começando por baixo e em relação a Garcia Pereira, candidato indicado pelo PCTP-MRPP, pouco há a dizer. Fez o que pôde e pôde pouco. A democracia quase não lhe deu oportunidade. Foi marginalizado e deixou-se marginalizar. Os votos que recolheu nas urnas pouco ou nada contribuíram para que pudesse haver uma segunda volta. Francisco Louçã, candidato indicado pelo BE, não só não capitalizou apoiantes para o seu Partido, como em nada contribui para que se passasse a uma segunda volta. O discurso dos pobrezinhos e coitadinhos começa a deixar de ter efeito e o voto de protesto que habitualmente tem conseguido arregimentar perdeu-se na abstenção ou transferiu-se para outras candidaturas. O cúmulo da descredibilidade da sua candidatura, sendo uma candidatura de Partido, foi a participação de uma dirigente do BE como mandatária para a juventude de outra. Para o eleitorado este foi o primeiro sinal que a candidatura de Louçã não era para ser levada a sério e que, inclusive como se veio a verificar no decurso da campanha, o BE só se apresentava a eleições para marcar posição na luta partidária, embora o seu candidato presidencial fosse outro. Jerónimo de Sousa, candidato indicado pelo PCP e apoiado pelos Verdes, mobilizou todos os seus fiéis numa campanha extraordinária. Tratou as presidenciais como se de legislativas se tratasse e atingiu os seus objectivos ao conseguir fixar os seus eleitores. Pouco preocupado com a segunda volta onde sabia não poder manter a estratégia de fixação, foi passando a mensagem de que a existir, também já tinha determinado o sapo a engolir. Sendo verdade que fixou o "seu povo" também o é que "esse povo" nunca seria eleitor de Cavaco. Por não ter conseguido mais valor do que a fixação pretendida, em nada contribui para que se viesse a conseguir uma segunda volta. Mário Soares, candidato indicado pelo PS, pouco ou nada contribuiu para evitar a vitória à primeira volta. Mais interessado em combater tudo e todos do que em evitar uma vitória de Cavaco à primeira volta, Soares conduziu uma campanha desastrosa, onde não entendeu sequer que nem no Partido que o indicou havia vontade suficiente para o eleger. Alvo de todas as atenções dos líderes de opinião, que sempre o trataram como se fosse um dos mais importantes contendores, acabou por sentir na pele o que se quis esconder até ao momento do escrutínio. Ao contrário do PCP, o PS não consegui sequer fixar o seu eleitorado. Pior ainda, a candidatura de Soares, não só não fixou o "o povo PS" como não conseguiu mobilizar os votos de centro que entretanto foram fidelizados em Cavaco. Foi aqui que se perdeu a segunda volta. Na falta de empenho dos que indicaram Soares como seu candidato. Nunca o PS teve um resultado tão desastroso em qualquer outra eleição. Sendo verdade o que durante todo o tempo de campanha foi dito, isto é, de que o PS, tirando uma pequena margem de militantes de base, estava todo mobilizado em torno da sua candidatura, então, mesmo contando com os apoiantes do BE que se transferiram por arrasto com a sua líder, ninguém mais apoiou a Candidatura de Soares. Basta pensar que se Soares tivesse obtido mais 1% de eleitores (não militantes e/ou os independentes do costume) estaríamos agora a meio caminho de eleger um Presidente da República que não aquele que os lideres de opinião já tinham anteriormente determinado. Manuel Alegre, candidato independente, atingiu todos os seus objectivos traçados para uma primeira volta. Conseguiu agregar à sua volta parte da abstenção de esquerda, foi ao centro e à direita buscar inúmeros apoios e reuniu as tais franjas militantes do PS que foram referidas atrás. Foi o único de todos estes candidatos que conseguiu mobilizar cidadãos-eleitores, para lá dos cidadãos-eleitores-partidários. Não tivesse sido esta candidatura e Cavaco teria tido uma entronização absolutamente absoluta. Esta minha reflexão (demasiado extensa para Post, mas ainda assim insuficientemente aprofundada) pretende ser unicamente um registo daquilo que observei. Retiro daqui, para já, uma conclusão: A continuação da caracterização direita/esquerda é a falácia que poderá levar a dita "esquerda" a resultados indesejáveis (na minha óptica, claro). Muita "direita" não votou Cavaco e muita "esquerda" ou se absteve ou o escolheu, uns, pelo voto, outros, pela resignação. É assim, quando alternância deixa de comportar o significado de alternativa. Por isso Cavaco foi eleito à primeira volta. LNT Nota: Algumas reflexões Alegres (I) Algumas reflexões Alegres (II)
1:38:00 da tarde
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