Mestre Cuca das escritas sagazes e bem-humoradas, Moacir Japiassu reafirma outra das suas artes nesta nova edição de Danado de bom, livro que já pode ser considerado um clássico da gastronomia brasileira nordestina.
Bobó de camarão 2 kg de camarão; 2 kg de macaxeira (mandioca, aipim) cozida; 0,5 l de leite de coco; 4 colheres de sopa de azeite de dendê; 250 gr de cebola picada; 3 dentes de alho amassados; 100 gr de pimentão vermelho; 200 gr de tomate maduro sem pele; 1 colher de sopa de coentros picados; 5 gr de pimenta-do-reino; 5 gr de cominhos; 2 pimentas-malagueta; 1 colher de chá de gengibre ralado e sal.
Tire os fios da mandioca, bata no liquidificador com um pouco de água e reserve. Refogue cebola e alho no azeite. Acrescente os tomates, pimentão, camarão, coentro, cominho, as pimentas, o gengibre e o leite de coco. Após 10 ou 15 minutos, misture a macaxeira. Deixe ferver por dois minutos e retire do fogo. Sirva com arroz branco, farofa de dendê (1) e arroz de coco (2).
Olho Vivo Bobó, o nome sugere, é acepipe leniente, cujo remanso deve ser preservado a todo o custo. Bobo infrangível, tenaz, é até pecado. Acrescente, pois, leite de vaca ao preparado, se lhe notar resistência. As almas do Pelourinho hão-de compreender e perdoar.
(1)Farofa de dendê 1 kg de farinha de mandioca; 10 gr de cebola picadinha; 1 xícara de azeite dendê; 1 colher de sopa de coentros picados e sal. Refogue a cebola no azeite e vá juntando aos poucos a farinha misturada com os coentros e sal.
(2)Arroz de coco 1,5 kg de arroz agulhinha; 0,5 l de leite de coco; 150 gr de cebola bem batidinha; água e sal q.b. Coloque água para ferver com leite de coco e cebola. Acrescente o arroz. Deixe cozinhar.
Se conseguir acompanhar com música nordestina ainda lhe vai dar mais água na boca.
O Presidente da Mesa - O Sr. Ministro faça o favor de descallçar a Bota e reformullar a sua adjectivação. O Ministro -Tem razão, senhor presidente. Isto não é uma palermice mas sim uma pallermice. LNT
Caro Nuno Pinto, Subscrevo o que escreveu. Também no início não apreciei a forma de Zapatero liderar com a questão das autonomias entre outros pontos (como a retirada de militares do Iraque - fora a sua promessa de campanha e cumpriu; a relação mais próxima com certos líderes da América do Sul), e dei conta disso inúmeras vezes neste blogue. A questão das autonomias causou-lhe alguns amargos de boca, mas foi bem sucedido nas suas intenções, como o Nuno bem refere. Zapatero cresceu politicamente. E o sucedido em 30 de Dezembro do ano passado, em Barajas, foi revelador da sua atitude, franca e aberta com os espanhóis, pedindo desculpas em público, na casa mãe da Democracia espanhola, no Parlamento, por uma interpretação errada que assumira. É raro ver um político pedir desculpa pelo erro que cometeu. Por exemplo, ainda hoje Espanha espera que o PP peça desculpa pela mentira que quis criar com o 11 de Março e que lhe valeu a derrota eleitoral. O erro, em relação à ETA, em vez de entravar o Presidente do Governo espanhol, acabou por lhe dar mais força e saber que o processo de paz é indispensável. Dados recentes apontam que os espanhóis também desejam a solução do caso basco. Sendo uma pessoa internacionalmente pouco conhecida em 2004, Zapatero tem evidenciado o empenho de quem acredita no que faz e revela-se hoje um estadista. As suas políticas, tanto externas, como o caso da Aliança de Civilizações que impulsionou, como internas, em termos de políticas sociais que coloquem fim à descriminação, são disto exemplo. E, em termos económicos, a Espanha continua a crescer, quanto a direita pensava e dizia que iria surgir o desprezo pela economia. Enganaram-se e por isso, em matéria económica, nem falam. No próximo ano veremos o que os espanhóis pensam deste Governo e deste líder... assim como da oposição.
Cara Margarida, Não me diga que tenho de aprender farsi para saber o que diz o flamejante de Teerão? Pois segundo a sua leitura, os tradutores deturpam tudo, de acordo com o interesse do imperialismo capitalista. Quanto ao bom-senso da jornalista do Avante, ele já é conhecido, pela defesa do grupo terrorista, que prende pessoas e trafica droga, perdão, no seu entender, é libertador da Colômbia. Olhe que posso não saber farsi, mas ainda percebo uma palavritas em espanhol e sabe-se o que as FARC fazem na Colômbia. Como qualquer pessoa, mesmo sem saber pouco mais do que a sua língua nativa, percebe-se o que pretende o flamejante de Teerão. Basta somar um mais um. E se tiver dúvidas, saiba o que disse o Ministro da Defesa iraniano quando visitou no ano passado a Síria. Está tudo escarrapachado, preto no branco e não culpe os tradutores de terem dito o que o governante iraniano expressou. Ninguém desmentiu as palavras. CMC
O nosso vizinho das terras gélidas resolveu meter a viola no saco e como a Finlândia arrumou os monstrengos para um canto, deixou a propaganda das loirinhas de lado.
Então António? Este ano mudaram radicalmente de estratégia?
Como podes ver por aqui nada muda. Ou melhor, a coisa vai de mal a pior. Se conseguires assistir até ao fim, tens à esquerda a nossa digna candidata à xaropada e à esquerda a loira brunette que a terra dos Nokia vai apresentar no Festival da Canção. LNT
[0.398/2007] Teoria da conspiração imperalista capitalista
Cara Margarida, Podia ter poupado no escrito e ter feito referência a este artigo da conspiração. Se bem percebo o artigo do jornal do PCP, Blair tinha tudo preparado. De Londres saiu uma ordem para uns militares que estão no Iraque serem detidos pelas guardas iranianas, de modo a provocar o imbróglio diplomático e, por consequência, provocar um ataque militar. Isto significa, portanto, que os militares britânicos actuam como os elementos de grupos terroristas, entregam-se à morte. Rica tese, esta! Noto, no entanto, a indiferença da Margarida para com o facto do Irão vir a possuir armas nucleares. Isso é a coisa mais normal do mundo. Deve ser a mesma indiferença com que a Margarida deve aceitar a afirmação, quem sabe a tese, do flamejante de Teerão, que quer riscar um Estado soberano do mapa. CMC
quinta-feira, março 29, 2007 [0.397/2007] A bílis do ressabiamento
Depois de ler o comentário do estimado João (jcd), a propósito de Zapatero, que me diz que posso acreditar no que quero (tal como qualquer pessoa) e, no caso, não é uma questão de acreditar, mas de constatar, que Zapatero se tornou um estadista, à semelhança dos seus antecessores, passo pelo Blasfémias, onde o João escreve, e leio uma pérola da bílis de uma direita ainda ressabiada com a vitória do PSOE em 2004. Pelos vistos, não percebeu a autora do texto que em 14 de Março de 2004 não foi o PSOE que ganhou a eleição mas sim o PP que desbaratou a vitória ao tentar enganar os espanhóis com os responsáveis pelo 11 de Março. Por outro lado, constato que a escriba não viu a entrevista de Zapatero. Resumiu a interpretação a um artigo do El Mundo. Nada de mal. Não podemos ver tudo. Porém, mesmo não tendo visto a entrevista, podia a pessoa estar a par da política de Zapatero em termos de imigração, que, seguramente, nada tem a ver com o disparate que escreveu. Se calhar, em termos de política de imigração, está a confundir o papel Humanista que o Governo espanhol tem assumido, ao contrário do professado pelo Ministro Bastonada, tanto no período de governante, como agora na qualidade de candidato da UMP ao Eliseu. CMC
[0.396/2007] Mais uma atitude exemplar dos governantes iranianos
Será que os governantes iranianos querem fazer do Estado uma organização de índole terrorista? Se não querem, parecem, com a detenção, ilegal, de 15 militares britânicos. Uma vez mais se evidencia o papel de abertura e diálogo do Irão e respeito pela decência, como no caso nuclear. CMC
Se não é presciência tua, caro Rui, andas lá perto. Referias ontem, com grande pertinência, como hoje as bancas provam, o problema que o país enfrenta em termos de diários de referência. A capa do DN de hoje é um bom exemplo. Dir-se-á que é o país que temos, mas, com franqueza, apresentar e conjugar a violência doméstica com o cartaz de um partido sem expressão eleitoral, que não tem noção do país e mundo em que vive, como a mensagem que emite sobre os imigrantes prova, e a fechar a página com os casos de barricada de uma universidade que tem andado nas bocas do mundo, é mais um empolamento da realidade, bem ao estilo dos tablóides. Ouvia há pouco na rádio o senhor do cartaz do Marquês dizer que conseguiu o que queria. Bem pode agradecer à direcção do DN a projecção que lhe foi dada. Que fosse notícia o cartaz, tudo bem, agora primeira página e com aquela mancha? Se recorrermos ao bisturi de Derrida saberemos desmontar e identificar o estilo que se está a pretender formar. Importa desconstruir esta linha, antes que sejamos nós a ser colocados no avião e sair da referência do bom-senso que o DN nos habituou. Mérito seja dado a quem conseguiu marcar a agenda de 10 milhões de portugueses com um cartaz que está exposto no Marquês de Pombal. CMC
Detesto ter falar de aeroportos porque é matéria de que nada entendo. Assim como detesto falar de projectos considerados como prioritários pela União Europeia principalmente os que são por ela aprovados. Nada entendo sobre coisas de aviação e ainda menos me atrevo a dizer que mais importante do que passageiros são as cargas. Igualmente nada entendo sobre rotas e corredores aéreos militares, respectivos conflitos com as rotas civis e da facilidade de ultrapassar estas questões. Decididamente nada percebo de leitos de cheia, nem se eles existem na Ota ou em Rio Frio e menos ainda de como terá sido possível fazer um aeroporto em Macau, ou um outro, tipo viaduto, no Funchal. Mas faz-me confusão que a União Europeia tenha dado luz verde a este projecto da Ota. Acredito que o fez assinando de cruz. Também me confunde a urgência em construir um aeroporto porque já estamos habituados a perder milhões por falta de capacidade do actual e mais tostão menos tostão... Faz-me igualmente confusão que se pretenda ter um aeroporto onde se pretendam receber todos os tipos de aeronaves. Por exemplo o A380 não tem nada que vir a Portugal, que disparate. Há que ser selectivos, caramba! E lá porque em Espanha existem 48 aeroportos não quer dizer que em Portugal tenham de existir, sei lá, uns seis ou sete. Claro que os Estremadureños devem estar muito preocupados com a construção de um aeroporto em Portugal que os sirva porque os dois ou três que têm na Estremadura não lhes bastam. Imagino que mesmo que o Governo abandone o projecto Ota haverá sempre lugar a discutir da mesma forma as alternativas que forem apresentadas. Mas imagino também que daqui a trinta anos ainda possamos estar a discutir a localização. Uma coisa que acho ter toda a razão é aquele argumento que daqui a trinta anos se o aeroporto for feito na Ota não poderá ser ampliado sabendo-se que nesse tempo o meio de transporte aéreo de cargas e passageiros pode ser uma coisa qualquer que hoje não nos passa pela cabeça. Há só uma coisa que sei. É que cada dia que passa é mais um dia de atraso e de distância ao mercado onde devíamos estar integrados servindo aquilo que a própria União considerou estratégico para a Europa ao aprovar as suas comparticipações. Só nos falta que um dia destes ainda apareça alguém a propor também a construção de uma rede de TGV, que disparate, que mania das grandezas! LNT
quarta-feira, março 28, 2007 [0.393/2007] Se bem me lembro
Lisboa nunca mais ouviu falar do famoso plano de revitalização da baixa Pombalina. No dia em que a única Vereadora com cargos executivos fez alguma coisa pela cidade renúnciou ao mandato, pelo menos apresentou um plano, coisa que não vi a nenhum elemento da maioria municipal, importava saber em que ponto está o projecto que espoletou. Tal como o rumo da cidade, depreende-se que o plano da Baixa/Chiado não está em ponto nenhum, ou melhor, está num armário, a ganhar pó. A cidade vai continuar a ser (des)governada por quem nada tem para lhe dar. É triste, ver esta Lisboa, sem eira nem beira. CMC
Elogiava há dias o líder da CiUpor recusar a proposta de vir liderar a Generalitat, se a formação nacionalista aprovasse a porposta da ERC de convocar um referendo de autodeterminação da catalunha. Poucos dias volvidos, e depois da ERC retirar a proposta, no Parlamento catalão o líder da CiU defende a autodeterminação. A política na Catalunha exerce-se de forma muito rasteira. CMC
Partilho da opinião do Rui. O cenário dos diários de referência nacional é preocupante. O Público, hoje bem próximo do estilo de um telejornal digno da TVI, e o DN a caminhar para esse sentido, são potenciais concorrentes do CM. Dos três, em versão tablóide, antes o original. Sempre é melhor do que as cópias. Por este andar, qualquer dia jornal diário pago, só mesmo o El Pais, já que estamos a perder os diários de referência. E, em termos de correntes, como bem refere o Rui, a esquerda fica com um sério problema a médio prazo. CMC
Caro Rui, Depois de ler o teu escrito, lembrei-me de uma frase que o Governo tem dito vezes sem conta: os privados vão ser os grandes financiadores do novo aeroporto. Este ponto não pode ser escamoteado. A ser verdade, não imagino investidores apostarem num local qualquer, conforme indicava a notícia do DE, referindo que para muitos empresários qualquer local serve. Portanto, não é indiferente a localização. Eu percebo o entusiasmo das gentes da área da Ota. Com novo aeroporto gera-se um pólo de desenvolvimento local. Mas isso tanto aconteceria na Ota como em Freixo de Espada à Cinta. Temos de interpretar e assumir o novo aeroporto no contexto nacional e internacional e seguramente a margem sul dá uma garantia, em relação a Espanha, que a localidade a norte da capital não oferece. E, aqui, uma vez mais trago à liça a questão do TGV. Se a Extremadura (espanhola) ficar mais perto do aeroporto de Lisboa do que do de Madrid, é mais meio milhão de potenciais clientes. Sem esquecer, nas complexas e indispensáveis equações de transportes, ambiente e outros, a proximidade do porto de Sines. Nem tudo é mau para a Lusitânia com a integração ibérica. Saibamos, tal como os espanhóis o fazem e bem, tirar partido disso e desenvolver a nossa economia. CMC
Caro Pedro, Estive tentado a votar no Marquês de Pombal por o considerar um dos grandes portugueses de sempre. No entanto, ao ver o gráfico apresentado no início do programa, que dava o 'meu candidato' em nono lugar, praticamente sem expressão e sem possibilidade de mudar o resultado, deixei-me reconfortar no visionamento do programa/concurso, pois percebi que os meus 60 cêntimos mais IVA não seriam decisivos. Percebi o porquê de alguns dos sinais dados pelos defensores das personalidades no apelo ao voto útil, com receio do que já se previa inevitável. Mas, nalguns casos, considerei extremamente fúteis os argumentos apresentados, como comparar as palavras de D. Afonso Henriques dirigidas aos mouros após a conquista de Lisboa a um despacho da ditadura. Com tantos argumentos válidos, como os que o jornalista José Manuel Barroso apresentou, tinha a defensora do primeiro Rei português comparar o dito cujo lugar onde as costas perdem o nome com as calças. Enfim... os fantasmas, que muitos apresentaram ao longo da noite de domingo. Quanto ao líder histórico do PCP, e que ficou em segundo lugar, e no qual votaste, partilho do teu ponto de vista, ele foi um combatente e resistente da ditadura. Teve um papel preponderante que ninguém lhe retira nem pode negar. Também partilho do argumento apresentado pela deputada do PCP, que 'defendeu' o líder comunista no programa, que dos 10 finalistas, ele é uma das personagens mais completa, por ser uma referência, independentemente de se apreciar ou não, no campo da política, das artes e letras, como nenhum outro finalista do concurso. Todavia, nunca votaria em quem preconizava um modelo ditatorial e atraso para Portugal, que felizmente não triunfou, por muitos não terem permitido que a Revolução dos Cravos virasse uma ditadura semelhante às do Leste no ponto ocidental da Europa. Bendito Mário Soares, um dos grandes portugueses da contemporaneidade! Quanto ao concurso, um sucesso em vários países, e que algumas pessoas agora tentam desprezar em Portugal, por o resultado não ter sido do agrado pessoal, convinha observar o que se escreveu por essa Europa, como nos indica o Pedro, pois os portugueses podem passar a ser vistos como os que preferem um ditador contemporâneo, como grande referência nacional. Será que é desta que abandonamos os fantasmas? Já é tempo! CMC
Confesso não perceber muito bem o conceito "rede editorial de blogues" e menos ainda se for um tubarilo, mas não podia deixar de anunciar que a coisa já anda por aí. Como sempre atento ao que vai medrando nestes meios, serei observador interessado e recomendo monitorização. Sairá o tubarão vencedor ou as dentuças do esquilo impor-se-ão? A espreitar em Tubarão Esquilo. LNT
Não vi o programa todo, emitido ontem à noite pela TVE Internacional, mas do muito que vi, gostei de ver o Presidente do Governo espanhol, a ser entrevistado por vários espanhóis e emigrantes a residir em Espanha. Da habitação à questão da beterraba, da defesa das vítimas de violência à possibilidade do país mudar de regime, tudo foi questionado. Tranquilo, objectivo, franco e firme nas respostas, mesmo naquelas que lhe podiam causar algum embaraço, como a possibilidade do antigo Primeiro-Ministro do PP ser imputado pelo TPI por causa da guerra do Iraque, no seguimento de notícias vindas a lume na semana passada, indiciando que o Presidente dos Estados Unidos da América e o Primeiro-Ministro britânico podiam ser chamados a comparecer em Haia, para responder ao Tribunal, Zapatero não foi dúbio e excluiu tal hipótese. Em relação à ETA, o governante também foi claro quanto à defesa do Estado de Direito e valorização da Paz. Há medida que o tempo passa, constata-se que Zapatero se revela um bom estadista, à altura dos seus antecessores, enquanto o seu principal adversário, o líder do PP, mais se parece com um qualquer agitador de massas. CMC
Eis um congresso digno de causar inveja, boa inveja, a todo o mundo lusófono. Enquanto nós vivemos com traumas e questiúnculas, o espanhol, seja o da Europa ou o das Américas, afirma-se como uma língua de sucesso e a mais pujante nesta era global. A diversidade é a força da língua de Cervantes e são tantas as referências no universo ñ que seria estúpido, em termos culturais, apontar qualquer ponta de neocolonialismo, como se tende a rotular com facilidade este género de evento. CMC
Tinha jurado não tocar neste assunto porque a projecção que se tem dado ao resultado do concurso da Um é tão ridícula que entendo que o tempo gasto é mero desperdício. Mas as análises são de tal surrealismo que se nada dissesse o nosso patrono Magritte nunca me perdoaria. Como se poderá levar a sério o resultado de uma votação voluntária onde é impossível apurar quantos votos unipessoais foram expressos? Só em minha casa existem cinco números de telefone diferentes e as miúdas ainda têm cartões do 96, do 91 e penso que do 93. Logo à partida se me tivesse passado pela cabeça participar na votação disporia de mais de dez votos. Depois, pela RTP fica a saber-se que houve 159.245 votos válidos o que, mesmo que os estivéssemos a considerar provindos de eleitoresrecenseados, representariam 1,7% do universo. Os 65.000 votos no Botas representariam qualquer coisa como 0,72%. Todas estas contas por alto só para fazer de conta que aquilo eram votos. Sem dúvida que a vitória clara foi para a RTP e operadoras de telecomunicações que empocharam perto de 129.000 Euros em chamadas telefónicas. Não serão as extrapolações desta brincadeira o cúmulo do ridículo principalmente se forem matéria bastante para encher páginas de jornais? Este Portugal não tem cura. LNT
Da esquecida - da Comunidade Internacional - Birmânia, recentemente rebaptizada por Myanmar, chegam notícias da apresentação, hoje, à comunicação social, da nova capital do país. Rangum, ou Yangon como chamam para não ter o nome do período colonial, perde o estatuto para Naypyitaw (Cidade Real). Cidade que ainda está em construção e à qual é bastante difícil aceder (já se vai perceber porquê). O regime ditatorial, que há anos mantém detida a Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, pode pretender defender-se de uma tentativa de golpe de Estado ou revolução, que as principais cidades podem proporcionar, mas, por este andar, mais dia menos dia, e devido à pressão demográfica e insatisfação das condições mais básicas de vida que se fazem sentir naquela região do globo, a Revolução laranja ucraniana, como alude o jornal indiano, que os detentores do poder birmanês tanto receiam, pode acontecer. Ao fim e ao cabo, trata-se de uma cidade sem grande projecção, feita à medida de um regime totalmente caduco. CMC
"We are not yet at final status negotiations. These are initial discussions to build confidence between parties," Rice said.
A Secretária de Estado norte-americana dá boas notícias. A confirmar-se a regularidade dos encontros entre o Primeiro-Ministro israelita e o Presidente da Autoridade Palestiniana, de 15 em 15 dias, pode encontrar-se o caminho para o road map há alguns anos perdido. Depois de ter dito há dias, salvo erro no Cairo, que é tempo do Estado palestiniano surgir, estas últimas horas de Miss Rice, em périplo pelo Médio Oriente, têm sido importantes e frutíferas. Reconheça-se o empenho da política norte-americana, no sentido de estabelecer pontes de diálogo entre os dois lados e procurando envolver na resolução do conflito os Estados vizinhos da região. CMC
[0.382/2007] Dos fantasmas e das feridas do Estado Novo
Caro JPN, Não assumi nenhum tipo de revisionismo histórico nos textos que estão expostos mais abaixo e se referem ao ditador de Santa Comba Dão e ao período do Estado Novo. Uma coisa são fantasmas e outras são feridas do Estado Novo. Penso que importa distinguir. Fantasmas há vários, como foi possível observar no programa de domingo, bem como as reacções ao resultado do concurso, como o DN dá hoje nas primeiras páginas. Feridas há muitas, e muitas feridas não sararam e nalguns casos nem saram. Há quem refira, e bem, como o LNT tem expresso aqui no TUGIR, os muitos que foram detidos no período da ditadura por questões políticas, por oposição ao regime, tendo sido torturados, condenados ao degredo e outros foram mortos. Mas há muitas mais e profundas feridas na nossa sociedade do período do Estado Novo e estas feridas não são referidas e, todavia, são por muitos tidas e sentidas. Gente anónima, simples e humilde que transporta este fardo de um período de atraso do país ainda presente. Basta andar por Portugal e em cada esquina encontrar famílias que têm esta marca do Estado Novo. Por exemplo, quantas não são as que perderam familiares na Guerra Colonial? Quantas não são as famílias que viram o futuro pessoal e profissional do seu agregado hipotecado por um regime que não criava esperanças de desenvolvimento Humano? Quantas não são as famílias que ainda hoje transportam as dores de uma guerra que não era a sua? E quantas, mesmo aquelas saudosas do tempo do Estado Novo, que viveram ou nasceram no Ultramar, sentem uma dor, pouco manifesta mas latente, de viver num país, Portugal, que não lhes agrada, precisamente pela errada e desastrada política do Estado Novo por não ter projecto de futuro, e sentem ardor quando sabem o que se passa na terra de nascimento e/ou vivência? Estas feridas estão à vista de todos nós, ainda que poucas vezes sejam pouco registadas. E quantas não são as famílias que se dividiram por muitos dos seus elementos precisarem de encontrar no estrangeiro as oportunidades de desenvolvimento que a sua terra natal não propiciava? Seguramente, mais de 2/3 dos portugueses transportam estas feridas. As profundas e enraizadas feridas do Estado Novo, bem mais reais e totalmente sentidas, ao invés dos fantasmas que algumas pessoas alimentam. Estas feridas estão bem presentes na nossa sociedade e raramente são mencionadas como marca do Estado Novo. Tudo se resume aos combatentes políticos, como se Portugal fosse só os intérpretes políticos. Foram eles, mas não só. É este Portugal actual que se esquece, não percebe mas que continua a sentir o golpe do atraso, na mentalidade e na essência de ser português. O Portugal com saudades de um país melhor, como diria Pascoaes, que o Estado Novo nunca criou, e que a Democracia ainda está por explorar devidamente. Enquanto a Democracia não for plenamente assimilada e exercida, política e civicamente, por todos, será sempre a política e essência do Estado Novo a vingada. Não nos admiremos com o resultado do concurso da RTP. Mais do que agitar fantasmas, que nada nos dão, devemos, antes, indignarmo-nos com a nossa pouca exigência cívica, a diversos níveis, de querer um Portugal melhor, muito melhor do que aquele que o ditador não cria e não permitiu. Na ditadura, o Estado fazia questão das pessoas não serem exigentes, deviam, apenas, obedecer. E muitos, com receio de responsabilidade, agradeciam. Continuamos a alimentar os egos dos campanários e quintais, em vez de procurarmos as oportunidades deste tempo. Chegamos ao ponto de exigir ao Estado aquilo que não exigimos a nós próprios. Queremos muito dos outros, mas assumimos poucas responsabilidades. Se quisermos ultrapassar este nosso atraso estrutural, devemos saber transformar os actuais e pertinentes textos de Eça, redigidos muito antes da governação do senhor de Santa Comba Dão, em escritos anacrónicos. Enquanto isto não suceder, serão sempre aqueles que pensam como o ditador, que sorrirão, pois continuarão a (saber) mandar e/ou dominar num país pobre, atrasado e sem futuro. É preciso conhecer a Alma para a saber explorar. Esta foi uma das principais forças do ditador. Só não a vê quem não quer. CMC
O local é indiferente? Como se projecta um país não atendendo às potencialidades? Ou será que estamos isolados na península? Pelo pouco que vi ontem do programa da RTP, foi possível perceber que a aposta deve ser na cidade aeroportuária (termo que deve começar a ser usado com frequência nos próximos tempos), condição que a Ota não reúne. Se contarmos com um aeroporto que também possa servir as gentes da Extremadura (espanhola - meio milhão de pessoas), melhor para o nosso país. E, o TGV para Madrid pode, afinal, não nos deixar numa posição tão periférica, como nos deixa o actual traçado, se conjugarmos o TGV com a localização do novo aeroporto na Ota. A opção é clara: ou um aeroporto com dimensão internacional, e a nossa posição geográfica é ideal no contexto europeu/transatlântico em relação a Madrid, ou passamos a ser uma extensão de Barajas. Se não queremos a segunda, a Ota deve ser rejeitada. Quanto aos nossos empresários, um pouco mais de atenção, porque o lucro fácil é aquele que não traz nem gera riqueza no médio/longo prazo. Saber o que queremos e para onde queremos ir importa. CMC
O nosso vizinho João Carvalho Fernandes assina o Fumaças há quatro-anos-quatro. Tem sido, desde o início, um enorme gosto acompanhá-lo e sabermo-nos acompanhados por quem é uma das pessoas mais civilizadas da Blogos. Para mais JCF faz hoje a homenagem devida a João Soares Louro, alguém de quem gostámos (gostamos) em especial e que nos deixa saudades. Uma vez mais João Carvalho Fernandes demonstrou o carácter que tanto lhe apreciamos. JCF é um homem de causas e um excelente companheiro. Fica um grande abraço com o agradecimento por tudo que tem revelado e partilhado. LNT & CMC
segunda-feira, março 26, 2007 [0.378/2007] Tudo em aberto
Há dias dizia-me o meu estimado amigo Luís Cepeda, entre uns farrapos de bacalhau, que o Ministro Bastonada já tinha a vitória quase assegurada. Obviamente, o candidato apoiado pela UMP tem surgido nos primeiros lugares. No entanto, como nos últimos dias as sondagens indicam, quer Ségolène quer o Ministro Bastonada estão lado a lado. Parece que os dois passam à segunda, a não ser que suceda um episódio como o de 2002, e que ninguém prevê. Mas pode acontecer. E, a suceder, não será a passagem do líder da extrema-direita, mas sim o candidato apoiado pela UDF. A campanha entra na recta final, faltam 26 dias para a primeira volta. De acordo com a sondagem da CSA, hoje publicada, os candidatos favoritos estão empatados, cada um com 27%. Primeiro, importa passar à segunda volta e depois, no início de Maio, esperar que as francesas e franceses escolham o melhor para a França e para a Europa: Ségolène Royal. Por isso, meu caro Luís, tudo está em aberto e ainda há muitos e bons motivos para continuar a acreditar na candidata apoiada pelo PSF. O futuro da Europa está a passar pela França e a depender dos franceses. CMC
Reconheça-se a sensatez do líder da CiU, não ambicionando o poder pelo poder. Pelo menos como ele é servido pela ERC. Os exemplos de pouca confiança política que ERC dá, conforme as duas coligações estabelecidas com o PS são exemplo, é preferível, do ponto de vista de interesses políticos da CiU manter-se na oposição a ter de contar, no Governo, uma coligação com quem só sabe dar golpes e trair no primeiro momento. CMC
Caro Alexandre, Nada está garantido, é certo, e como bem referes, é preciso prudência, mas é um momento histórico para o Reino Unido, para a Irlanda e para a Europa. Quem imaginaria há alguns anos ver os senhores da fotografia do texto que apresentas juntos? Impensável, diriam muitos, a começar, provavelmente, pelos próprios. Foi dado um passo importante numa região que há sensivelmente um século vive debaixo de um clima de guerra aberta e manifesta entre as pessoas que moram nos seis condados do Ulster. A verdade é que foi alcançado um patamar de negociações, encontros e acordos inimagináveis há uma década na Irlanda do Norte, graças ao Governo Trabalhista. Esta é uma das principais obras políticas de Blair, que soube derrubar a guerra e construir a Paz, quando muitos não acreditavam. CMC
O magnífico DG dos Impostos que tanta tinta tem feito correr e tanto tem preocupado a santíssima opinião, usufruiu de uma campanha mediática que o sentou, senão ao colo, pelo menos à direita do Pai, mas deixa o legado de muitos milhões por cobrar. Entretanto oremos irmãos e vós que estais no trilho da impunidade e perdão do vosso tributo levantai os braços e dai graças. LNT
De quando em quando confrontamo-nos com a realidade que clarifica o nosso atraso permanente. Em Portugal sempre foi mais importante parecer do que ser. As pessoas endividam-se para parecer e as elites(?) estabelecem padrões para defesa da sua própria condição não sendo poucos os que vão atrás do mais fácil, se necessário enganando. Nesta República a nova realidade assenta numa sociedade que prescinde do mérito e se basta na titularidade do canudo, promovendo por habilitação em detrimento da capacidade. Toda a máquina está montada nesse sentido, protegendo as castas. Em Portugal chega-se ao cúmulo das ordens honoríficas serem atribuídas por graus académicos. Por isso temos em lugares de topo tantos incapazes diplomados e tantos outros com provas dadas e mérito reconhecido a não passarem da cepa torta. A confusão entre qualificação e habilitação literária continua a ser a pecha mais injusta e promotora da pior incompetência e tenta muitos que não conseguem aguentar essa pressão a jogos de inverdade para conseguirem a igualdade de oportunidade que a própria Lei e as colunas de opinião lhes veda. Os que ascendem vêem-se confrontados com a crítica de não deterem este ou aquele grau académico, independentemente da capacidade para desenvolverem essa actividade e, como mais vale parecer, quando o estofo é fraco e a corrupção muita, forja-se. Os resultados estão à vista. Um país medíocre, de pseudo-elite titular de habilitação mas inqualificada. Um país onde os cidadãos não têm de provar do que são capazes porque lhes basta um título para parecerem capazes. Um país onde, apostado na imagem e na propaganda, em vez de se defenderem valores, provando-os com o mérito, se escolhe a trapaça. Mal de quem alinha nestes jogos porque quando a meta é a mediocridade os medíocres mais habilitados, temendo bater-se pela qualidade, nunca se deixarão comparar. É um País triste este Portugal. LNT
Está dado o impulso para o projecto europeu sair do impasse que atravessa. Dentro de dois anos, o actual momento deve estar ultrapassado, assim Governos e povos europeus, em conjunto, queiram sair da estagnação em que nos encontramos mergulhados. CMC
sábado, março 24, 2007 [0.370/2007] Mais assertividade
Sabe-se que nem todos os Estados-membros da UE encaram o projecto europeu com a mesma leitura. Sabe-se, inclusive, que alguns tendem a assumir uma postura mais próxima do cepticismo. O Presidente da Comissão Europeia, melhor do que ninguém, sabe isto e sabe que teria de lidar com um conjunto de circunstâncias nem sempre abonatórias para o seu mandato. Uma delas é a atitude mais nacional, em vez da europeia, de cada país. Por isso, estas palavrasmereciam estar dotadas de substantivos, para saber a quem se refere o Presidente da Comissão. Posso até suspeitar dos países, mas seguramente a postura dos mais críticos não têm todas o mesmo denominador comum. Importa, por isso, clarificar, para separar o trigo do joio. O número um da Comissão pode pensar isto, mas deve ter cuidado com as palavras que emprega, pois são 27 os países que ficam em cheque. CMC
Esperava melhor resposta do meu caro camarada Carlos, porque aquele seu primeiro parágrafo não só é mais do que batido e com argumentação estafada, como ainda por cima distorce o que foi dito, o que não é o seu estilo. Em lado algum sentenciei, quem sou eu para sentenciar o que quer que seja, e em lado algum disse que era preciso sentir na pele para se falar do Estado Novo. Aliás nesses comentários nem sequer me pronunciei sobre o Estado Novo mas só sobre o Botas. Estranho, isso sim, que seja um socialista a chamar de fantasmas os sofrimentos, degredos e mortes que o ditador mandou cometer. Esta promoção do branqueamento do ditador que entre muitas outras atrocidades fez com que o próprio Partido Socialista tivesse tido a sua primeira luz no exílio, porque tinha perseguido, preso e feito exilar os que o fundaram, é-me estranho, confesso. Depois porque a lapalissada de que o estupor era um ser humano, é uma constatação no mínimo ridícula. Todos o sabem. Nem aqui, nem na Alemanha nazi, nem na Itália fascista, nem na Espanha franquista ou em qualquer outro País ou noutro regime foram deuses ou diabos que comandaram as atrocidades. Grande novidade! Foram seres humanos embora seja certo não merecerem ser considerados como tal. E é exactamente por o serem que merecem todo o nosso repúdio assim como são merecedores de que sejam criados espaços onde estejam evidenciadas as malfeitorias que fizerem para que as novas gerações não permitam que tal volte a acontecer, nem que alguém se permita amaciar a verdade para que se "possa conviver com decência e sem traumas com o passado recente". Depois ainda porque só a juventude do meu companheiro de Blog desculpa o convencimento de que as coisas não se repetem. Quanto a isso nada há a fazer, só a experiência lhe ensinará quão repetíveis são os acontecimentos irrepetíveis. Finalmente e porque não adianta sequer estar a perder tempo, já se percebeu o enquistamento e a fixação na personagem em causa, desejar-lhe as melhores venturas nesta sua cruzada e já agora, se lhe for possível, uma passagem pelo que está disponível dos arquivos da PIDE onde encontrará muitos mais fantasmas do que a saponária em que se meteu e lhe permite sentenciar coisas como, por exemplo, "Se não conhecesse tão bem a Alma deste povo, de como lhe agradar, como poderia o senhor ter governado tanto tempo?" quando se sabe que isso foi conseguido com a ignorância, a miséria e a repressão que o homem de Santa Comba impôs no nosso Portugal. LNT Nota 1, aproveitando este texto: Recebi algumas mensagens onde diziam ser inadmissível o desrespeito com que trato o Botas nos meus textos. A nenhuma respondi mas aqui fica exarado que esse senhor não me merece mais respeito do que aquele que ele revelou com os portugueses que mandou torturar, prender, perseguir, matar ou exilar. Lixo é lixo. Nota 2 - A Respirar o mesmo ar
sexta-feira, março 23, 2007 [0.368/2007] O esquecido Aristóteles
A capa do DN chama a atenção para a entrevista ao Prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus. Porém, o que me despertou mais curiosidade foi a frase: "A política ainda é o melhor meio para mudar a sociedade". Trata-se de uma afirmação estapafúrdia, na medida em que a política, desde que o Ser Humano se reconhece e assume e lida em comunidade, existe e é o que muda a sociedade. Ontem, hoje como amanhã. Enquanto houver espécie humana, a política é tão inata ao Ser como o oxigénio que cada pessoa respira. Obviamente, deduzi, deve referir-se à política partidária, como a interessante entrevista (sem ligação) acaba por aclarar, devido ao partido político que o Nobel da Paz criou no Bangladesh. Seria bom não esquecer que todas as pessoas, sem excepção, são animais políticos por que se dão em sociedade, na qual existem relações de poder entre si. Mesmo aqueles que sem dizem apolíticos - até porque a apolítica também é uma forma de política. E, a política, por mais que seja dominada pelos partidos, não é, só e exclusivamente, partidos, até porque antes destes, existem as pessoas. E, nos tempos que correm, os partidos têm vindo a perder protagonismo político. Aristóteles anda, infelizmente, muito esquecido nestes tempos. CMC
Gosto de ler os comentários do meu companheiro de blogue, quase que sentenciando: não falarás do Estado Novo se não o sentiste na pele. De certo modo, tal como o espírito do senhor de Santa Comba Dão, em relação à nação, neste caso adaptado à personagem em causa: o assunto não se discute, diaboliza-se. Entre a tentativa de querer caricaturar o regime, como alguns fazem, dizendo uns que foi o inferno e outros o paraíso, provavelmente os pés assentes na terra permitem encarar o tema com olhos de ver e saber que nem foi uma coisa nem outra. Mas, fantasmas têm-nos quem quer. Em Democracia posso dar-me ao luxo de ver o senhor não como o diabo ou o deus, que nunca foi, mas a pessoa humana, o ditador que atrasou o país e que, pelos vistos, ainda continua a influenciar Portugal, com o seu pensamento, do não ver muito além, do olhar para dentro e rejeitar tudo aquilo que inove, do não discutir nada e nada colocar em causa. Apenas cânones, que não se discutem, seguem-se. Haja quem alimente fantasmas, porque o que faz do senhor de Santa Comba Dão um mito ainda presente são os seus apoiantes e resistentes, como se a Democracia lutasse pelo passado e não perspectivasse o futuro. O tal futuro que nunca foi concebido pelo Estado Novo, que apenas se agarrava a uma visão do passado distante, do Portugal das descobertas, e que alimentou durante, sensivelmente, meio século, com as trágicas consequências que o país sentiu e ainda sente. Felizmente, e agora que estamos a dois dias de celebrar o Tratado de Roma, a Democracia abriu o país à Europa, abriu as portas do futuro, que o regime autoritário sempre desdenhara no tempo do senhor de Santa Comba Dão. CMC
Meu caro vizinho Evaristo, Venho agradecer o cuidado e aproveito para nesta o esclarecer que a coisa parece ser mais do foro bacteriológico (aguardam-se resultados) mas que está tudo controlado, graças a Deus e aos cuidados de veterinário amigo. Em breve voltarei à labuta que a vida está pela hora da morte, como o meu vizinho e amigo sabe, e sobre o preço das maleitas e respectivos meios de diagnóstico é melhor nem falar. Quanto aos marcadores que tanto o arreliam, pudesse eu, oh Evaristo, já tinha alterado o dizer para evaristadores, mas tal não me é permitido pelo senhor Blogger sem que altere o layout deste Tugir, o que não pretendo fazer porque continuo a entender que assim está benzinho. Também essa associação de marcadores à linguagem futebolística é puxadote, convenhamos. Ainda a bola era quadrada e já a palavra marcador fazia parte do léxico português indicando aquilo que marca e como tal até nem me parece de todo mal para designar aquilo que marca e agrupa para mais tarde recordar. Parece-me mesmo preferível, permita que o contrarie, à tradução à letra de label, porque etiqueta, parece ser coisa que aqui não cola. Esta já vai longa. Uma vez mais agradecendo o cuidado, expresso-lhe as mais sinceras cortesias, sempre atento ao seu escrever. LNT
A série apresentada em recorte, resultado de quem esteve com tempo para fazer a colecção, é significativa da blogos(fera) lusa. Os assuntos escritos nos últimos tempos não diferem muito das representações gráficas o que comprova a multiplicidade de formas pelas quais nos podemos exprimir neste meio electrónico. A criatividade é imensa e a beleza, mesmo a mais subtil e áspera, envolve as palavras de um sentido que só aos sábios é permitido prescindir. Quem gosta deste meio de comunicar, gosta dele no todo. Até da expressão jovem "irrepetibilidade" que nós da geração francófona sabemos ser uma palavra vã, tanta vez já assistimos a irrepetíveis que voltaram a acontecer. Certo que noutros contextos, com outros autores, mas sempre resultado de desmemorização dos reinventores da roda. A Blogos(fera) tem uma vantagem fundamental que é registar. Algures, alguém, mesmo que tudo isto passe, terá sempre o registo. E já que a coisa anda pelo franco-nostálgico fica o registo irrepetível de Moustaki para se poder ouvir per omnia secula seculorum.
Ainda a propósito do ditador de Santa Comba Dão, nota-se, nos últimos anos, que a sociedade portuguesa está a lidar com a figura de modo menos complexado. Os fantasmas do passado estão a esbater-se com o tempo, como é natural, e já só os têm aqueles que estão presos a uma era que receiam regressar e outros que a desejariam - época, regime e mentalidades que não têm mais retorno. Este concurso da RTP, que pode ter muitos defeitos, não pode, todavia, ser acusado de não ter deixado de suscitar referência e debate de momentos importantes da História de Portugal, assim como dos seus intérpretes-mor, nomeadamente a mais controversa do imaginário português contemporâneo. De certo modo, o espírito do debate que há dois três anos se gerou na Alemanha, com o filme "A Queda", que retratava as últimas horas do líder do III Reich, que descomplexava a imagem da personalidade despótica, assumindo-o como o humano e não como o monstro, tem sido assumido em Portugal, no que se refere ao principal rosto do Estado Novo. Por mais ódio ou paixão que provoque, fazendo uns do senhor o Diabo e outros o Deus, a personagem precisa de ser encarada como o humano, que soube governar este país durante 40 anos com hábil destreza. Tal como na Alemanha se disse, não foi um monstro que provocou a morte de milhões de pessoas, foi um humano. É nesta desmistificação lusa da personagem que o debate e o país têm a ganhar, de modo a conviver com decência e sem traumas com o passado recente. O senhor nem foi o super-homem do país que uns quantos o querem fazer, nem o monstro da nação que alguns pretendem descrever. Foi o tirano, com todos os traços do português típico. Traços estes que, de largo modo, o permitiram permanecer tanto tempo no poder. Se não conhecesse tão bem a Alma deste povo, de como lhe agradar, como poderia o senhor ter governado tanto tempo? As páginas da Visão de hoje, reservadas ao senhor de Santa Comba Dão, são um belo contributo para este debate, que se quer livre de fantasmas e tabus. CMC
[0.363/2007] Falta um mês para a eleição presidencial
Dentro de um mês, precisamente, tem lugar a primeira volta das presidenciais francesas. Com a saída de Monsieur Jacques, qualquer que seja o sucessor no Palácio do Eliseu, a política francesa mudará de rumo. E, deste modo, será a França e a Europa que mudarão. Deste modo, resta aguardar, pela segunda volta, em Maio, para se conhecer o futuro Presidente de França, que, tudo indica, será Ségolène Royal ou o Ministro Bastonada. Teremos uma França mais europeísta ou uma França mais egoísta? Veremos... Quanto à primeira volta, pelas sondagens mais recentes, a ascensão do candidato da UDF, que tem feito estremecer os quartéis-generais dos candidatos da UMP e do PSF com a sua subida nas intenções de voto, tem perdido fulgor nos últimos dias. De certo modo, nestes últimos dias deverá ficar mais claro o favoritismo dos dois principais candidatos. Para já, é quase seguro que a vitória na primeira volta sorrirá ao candidato apoiado pela UMP. A confirmar dentro de 31 dias. CMC
Os dias de molho proporcionam, quando cessam as dores de cabeça e os reflexos se recompõem, actividades que não envolvam recursos físicos mas que ocupem a mente em quarentena. Geram-se estados de espírito complexos no combate ao stress pós-febre onde as horas correm intervaladas com sonos, filmes deixados por ver, memórias dispersas de coisas por fazer, preguiças a satisfazer, leituras esquecidas a meio marcadas por recibos de almoço, extractos Multibanco e guardanapos do café. Em sucessão à visão do Hotel Rwanda, a leitura acabada do Quiproquos@media.com há tempos recebido do seu autor, Francisco Silva, que contém o registo de textos soltos sobre coisas que ligam águas e azeites, comunicação e genoma, tudo embrulhado no celofane da sociedade da informação. Ficam por registar as habituais respostas aos comentários que amavelmente vão deixando nos meus textos deste Blog, com a nota que todos eles estão, como sempre, lidos e agradecidos. Isto está quase a passar. LNT
quarta-feira, março 21, 2007 [0.361/2007] Sei que pareço um ladrão... Mas há muitos que eu conheço Que, sem parecer o que são, São aquilo que eu pareço.
Com uma quadra de António Aleixo para comemorar a poesia, só volto hoje a esta escrita para tentar transmitir que não entendo a expressão na AR com que todos os deputados da oposição concluíram (até os do PSD que para o esconder quando foram governo só não venderam o que não puderam) que a descida do défice não se deve ao Governo mas sim aos portugueses. Será que estes senhores pensavam que o défice ia ser reduzido devido aos franceses, holandeses, alemães ou chineses? Estou a crer que sim. Talvez tenha sido por isso que o Governo anterior fez o que fez aos fundos dos trabalhadores da CGD(e fê-lo só para disfarçar os números escandalosos a que deixou chegar as finanças públicas) convencido que a sigla queria dizer Como Gerir o Défice. Enfim, a poesia é assim mesmo e resulta dos estados de espírito de quem a escreve. LNT
E depois de ter passado este final de reclusão a ver o Hotel Ruanda, um excelente trabalho demonstrativo da hipocrisia em que nós, os civilizados, vivemos, só me apetece fugir para o sítio onde medram os chaparros e depois de desligar todas as antenas ao exterior deixar-me viver o resto da vida na ignorância, que de sapiência para explicar os Ruandas deste mundo já tenho que baste. LNT